[Diário de bordo] Novo país, nova vida, nova casa: China!

Estamos em Pequim desde meados da segunda quinzena de julho. Estivemos aqui em fevereiro último para dar uma olhada ao redor e descobrir se iríamos gostar de viver aqui e batemos o martelo. De lá pra cá aguardamos as confirmações todas, preparamos a mudança. Nos desfizemos de coisas que não queríamos mais. Passamos inúmeros estresses... Tudo aconteceu muito rápido, só que não. 

O fato é que estamos aqui há 10 meses. Procurar apartamento por aqui revelou-se tão complicado quanto em outros lugares, porque há muitas opções ruins. Até encontrar o lugar, onde a relação planta do apartamento + prédio + localização do imóvel atendessem às nossas expectativas, levou um tempo. E no fim o escolhido foi um apartamento num dos primeiros prédios onde Bruno esteve assim que chegamos. Quando eu vim ver, haviam outras unidades disponíveis e os apartamentos mais altos têm uma vista incrível, com a qual eu queria casar. Até encontrarmos um apartamento que estaria vago na data em que nossa mudança chegaria levou um tempo. Mas tudo se ajeitou. Ufa!?

A vista do skyline de Pequim que temos da janela da sala.

A vista do skyline de Pequim que temos da janela da sala.

Mais ou menos.


Quando viemos em fevereiro, o objetivo fundamental era avaliar as condições de poluição em que a cidade se encontrava. Nossa viagem pela Índia, apesar de incrível, me deu um certo desespero de viver num lugar extremamente poluído. Apesar das notícias de que a qualidade do ar em Pequim vinha melhorando consideravelmente, dados os esforços do governo chinês neste sentido, eu queria ver com meus próprios olhos. E foi tudo tão tranquilo que nem titubeamos. Seria bom pra mim, dada a riqueza da cozinha chinesa, e seria bom para o Bruno porque o escritório da China é um dos maiores e mais importantes para o trabalho dele. Só que, quando chegamos aqui - em pleno verão - o calor era tanto e a poluição estava tão forte que eu experimentei um certo pânico nos primeiros dias. Uma das piores combinações pra mim, capaz de me fazer não querer sair de casa por nada deste mundo. Então meus primeiros 2 meses na cidade foram meio caóticos.

Eu experimentei, também, um certo luto pela mudança de país. Ele sempre existe. Mudar de país é como se você morresse junto com a mudança. Daí no novo lugar você precisa renascer, tentar se conectar com o novo espaço, construir uma nova vida do início. Além disso, a minha capacidade de comunicação diminuiu drasticamente. Enquanto no Sri Lanka eu conseguia me virar bem em inglês ao ponto de não ter precisado aprender a língua local, em Pequim eu praticamente me comunicava por mímica. Claro que com o tempo e a falta de domínio das línguas locais (em Miami eu levei tempo pra soltar a língua e compreender o que as pessoas falavam comigo em inglês. Quando eu finalmente comecei a me comunicar, as pessoas teimavam em me responder em espanhol), eu desenvolvi uma capacidade de compreensão da linguagem corporal e olhares que me fazem perceber mais rapidamente o que estão tentando me dizer em outro idioma. Pois bem, o luto foi mais forte do que eu imaginava, por estes motivos todos, mais os acontecimentos do Brasil que me deixaram à beira de um ataque de nervos e uma vontade incrível de sumir do mundo. Deprimi. O outono chegou e com ele o pólen suspenso no ar me levou a nocaute. Fui parar no hospital. Levei mais de um mês pra conseguir me recuperar. Mal conseguia ficar de pé. Passou.

Aos poucos eu fui descobrindo lugares interessantes, me conectando com novas pessoas e descobrindo escolas de cozinha e restaurantes que oferecem o que há de melhor da variada cozinha chinesa que eu não conhecia. Comecei a estudar o Mandarim. Fui aprendendo a me localizar na cidade. Encontrei fornecedores de pão sourdough. Perto do meu prédio tem uma feirinha de hortaliças e frutas bem legal. A vida foi se desenrolando e e fui começando a sentir que estava de volta. Quando estava me sentindo mais fortalecida, decidimos adotar um outro gatinho para fazer companhia ao Onofre. Ele não gostava de ficar sozinho e isso me deixava com pena. Depois de muito procurar encontramos o Batatinha. E a vida tomou forma novamente.

Aqui Onofre ainda reina absoluto na casa, enquanto Batatinha vai pouco a pouco conquistando seu espaço.

Aqui Onofre ainda reina absoluto na casa, enquanto Batatinha vai pouco a pouco conquistando seu espaço.

Pra finalizar, deletei minha conta no Facebook. Deletei meu app do twitter do meu celular. Só mantive o Instagram.

Depois de tudo isso eu me sinto energizada o suficiente para voltar ao blog com força total. Quero muito tornar este espaço o meu objeto de trabalho. E por meio dele desenvolver projetos que ainda estão na gaveta. Ele será minha porta de contato com este mundo virtual que tanto nos suga, mas o objetivo é manter-me ativa na cozinha. Espero que seja produtivo pra mim e interessante pra quem quiser vir ler.

 

[Diário de bordo] Dizendo adeus ao Sri Lanka, dois anos e meio depois.

Serendipity é uma palavra que foi cunhada num romance de Horace Walpole: "Os três príncipes de Serendip", cuja história se passa no antigo Ceilão (um outro nome antigo do Sri Lanka é Serendib, de onde vem a palavra criada pelo autor) e onde os protagonistas estavam sempre encontrando algo incrível, que não estavam procurando originalmente. A palavra significa isso mesmo: feliz descoberta ao acaso. 

A vida nos reserva experiências que contribuem para o nosso crescimento. Cada momento, novidade, queda, decepção, alegria, ganhos ou perdas, nos permitem construir constantemente este projeto que só estará pronto, se estiver, no momento de nossa morte. A idéia de que a felicidade é um fim em si mesma, a grande busca da vida de todos nós, torna-se ultrapassada a partir do momento em que você entende: estar presente é o grande lance de toda esta busca. Como escreveu Guimarães Rosa, "A felicidade se acha é em horinhas de descuido.". Naquele pequeno espaço de tempo em que você está presente. Sem fazer planos, como disse John Lennon. Somente aceitando o que vem. 

Deixa a vida me levar

A nossa mudança para o Sri Lanka aconteceu numa horinha de descuido. Nasceu durante uma conversa minha com o Bruno, em um restaurante de comida inspirada no Sudeste Asiático. Durante um brunch de domingo, ainda em Miami. Naquela época a inclinação dele era de que nossa próxima cidade fosse na América do Sul. Eu falei, pensando alto, que apesar de adorar a idéia de conhecer mais os nossos países hermanos, acreditava que nós devíamos aproveitar a oportunidade de conhecer aquele mundo diferente que deveria ser a Ásia. Com suas comidas deliciosas e culturas incríveis, seria um prato cheio para nós. Desbravaríamos um pouco mais deste mundão que fica cada vez menor. Eu, pela comida. Ele, fotografando. "Imagina a gente passeando pelo rio Mekong!". Os olhos brilharam. 

Rota alterada para a Ásia, o Sri Lanka nos caiu no colo. A idéia original era tentar ir para a Índia, Vietnã, Tailândia, Japão ou mesmo a China, mas acabou que nos vimos embarcados nesta aventura de nome engraçado, cuja localização eu tive de ir ver no mapa. Seria a minha primeira vez morando numa ilha. A proximidade com a Índia contribuiu para a idéia de que o Sri Lanka seria uma miniatura daquele país. O tempo diria que esta era uma idéia completamente equivocada. Para o bem e para o mal.

Túnel do tempo

Lembro que uma das primeiras sensações que tive foi a de volta no tempo. Talvez o cheiro de naftalina por todos os lados contribuísse um pouco para essa impressão. Lá encontrei alguns objetos e referências que fizeram parte da minha infância / adolescência, entre os anos 80 e 90, e que são muito comuns. Aos poucos entendi que o excesso de humidade, os insetos que surgem por conta das características da capital e os longos tecidos dos Sarees das mulheres eram os responsáveis pelo cheiro que se tornou símbolo da ilha pra mim, muito embora a naftalina tenha um cheiro do qual eu nunca gostei. 

Falando nas mulheres locais, elas são um capítulo à parte. Se tem uma coisa da qual eu nunca me cansei foi de admirar as mulheres srilanquesas e seus cabelos fartos, pesados, longos, negros e lustrosos, passando em seus sarees coloridos por todos os lugares. Quanta inveja eu senti dos cabelos e da cor da pele, naturalmente bronzeada. Conheci uma mulher que tinha a pele de brilho tão fresco que absorvia a luz de maneira ímpar. Como pele de criança. Tive dificuldades em parar de olhar. Belíssima! As crianças srilaquesas também, com seus enormes e expressivos olhos de jabuticaba, boca pequena e queixos miúdos, os cortes e penteados mais fofos nos cabelos. As em idade escolar dão gosto de ver, voltando pra casa no uniforme branco com gravatinhas coloridas. As meninas usando tranças... 

A região central de Colombo tem um lago artificial que atrai muitos pássaros, especialmente pelicanos. A imagem deles voando bem baixo, parecendo pterodáctilos passando por nossas cabeças, junto a morcegos gigantes em revoada logo pela manhã ou no fim da tarde - além dos corvos barulhentos espalhados por todos os espaços - trouxe sensação de alegria pela fauna diversa encontrada na cidade. Tornou-se comum ver corvos levando as coisas mais inusitadas nos bicos durante o vôo: desde um sanduíche roubado de uma criança, passando por cabides de arame e fios para fazer ninho, chegando à ratos mortos e parcialmente eviscerados que as turmas de gralhas comiam. Um espetáculo de encher os olhos e que ajudou a forjar nossa experiência neste país que esteve em guerra civil por 30 anos, até 2009. 

Expectativa X Realidade

Aos poucos fui aprendendo um pouco mais sobre Colombo e a vida que eu levaria na cidade. Eu tinha pensado que talvez a capital do Sri Lanka se assemelhasse a uma cidade do interior brasileiro. Em alguns casos, acertei em cheio. Noutros, nada podia ser tão diferente. Pensei que as estradas talvez não fossem asfaltadas e por causa deste meu pré-conceito decidimos comprar um Jipe pra viajar pelo país quando possível. Mas a qualidade do asfalto das estradas é excelente, quase todas parecendo um tapete e sem buraco algum. As rodovias que ligam as cidades são recheadas de curvas e surpresas como mão dupla em pista simples. Uma distância de 100 km só pode ser vencida depois de quase 3 horas de viagem. Isso fez com que a escolha do carro tenha sido acertada, principalmente porque pudemos fazer Safáris nos parques nacionais usando nosso próprio carro. 

As casas srilanquesas são muito grandes e escuras. Muita madeira e quinas. Aberturas tipo cobogó nas paredes, cobertas com acrílico pra evitar os mosquitos transmissores da dengue. Corrimão cromado, escadas, varandas e bancos de cimento... Famílias inteiras vivem sob o mesmo teto. Isso tudo fez com que a nossa busca por uma casa pequena durasse muito mais do que o normal. No fim, alugamos uma casa de 4 quartos da qual eu nunca gostei, muito embora ela fosse uma das mais claras e sem quinas, com menos pavimentos e coisas estranhas que achamos. Minha energia não bateu com a da casa e eu nunca me senti bem dentro dela. A localização era ótima, apesar de ficar meio escondida numa pequena rua que abrigava uma espécie de vila de casas, quase todas iguais, onde a maioria dos moradores eram locais. 

A partir deste momento de contato com os locais foi que eu tive contato com o que é de fato o choque cultural. Foram tempos difíceis de ajuste. Surpreendentemente eu encontrei dentro de mim uma vontade grande de fazer dar certo a nossa vida ali. Algo dentro de mim dizia que a experiência valeria muito. 

Também quero viajar neste balão

No meio disso tudo, eu já fazia parte do IEA, uma associação de expatriados que me deu muito suporte neste processo. Por meio desta associação eu pude me envolver em várias atividades interessantes, além de usar meus talentos e habilidades para divulgar um pouco da cultura gastronômica brasileira por meio de aulas e pequenos eventos em minha casa. Fiz bons amigos por meio deste grupo, o que tornou a vida muito mais agradável e interessante. Uma pena que no fim eu não tenha conseguido furar a bolha expatriada que eu tanto almejava. De todo modo nossa experiência aqui foi melhor do que a de Miami, justamente porque saímos da bolha brasileira. 

Vento no litoral

Pouco mais de um ano depois do ataque, Jurema desenvolveu insuficiência renal. Antes disso ela foi vítima de intoxicação por mal-armazenamento de ração no supermercado. Depois de descoberta, a doença evoluiu muito rápido. Em parte por conta da inabilidade dos veterinários e a falta de estrutura das clínicas da cidade. Tivemos de optar pelo sacrifício da nossa maior companheira. Foi a decisão mais difícil que tive de tomar na vida. A maior ironia eu ter perdido o meu cachorrinho num lugar onde eu fiz tão bons amigos. Dizer adeus foi muito doloroso, mas ao mesmo tempo eu tinha muita certeza de que era o melhor para ela, porque estava sofrendo demais. Tivemos de enterrá-la no jardim e assim ficamos com uma casa enorme e vazia, sem a presença dela. Eu nunca havia imaginado que o Sri Lanka me tiraria a Jurema desse jeito. A partir daí, o copo meio-cheio passou a ser meio-vazio e fomos nos desconectando do país aos poucos. 

Uma casa muito engraçada

Fizemos muitas viagens buscando um novo posto na Ásia, porque depois de tudo o que aconteceu nós queríamos fechar o ciclo. Visitamos Vietnã, Índia, demos uma passadinha nas Ilhas Seychelles pra descansar no fim do ano e fomos passar o ano-novo Chinês na China. Experimentamos vários mundos novos em pouco tempo, tentando nos desvencilhar das saudades do nosso cachorrinho e de todo o sofrimento que ela enfrentou vindo morar no Sri Lanka com a gente. Funcionava durante os passeios, mas a saudade gritava ainda maior quando chegávamos de volta em casa e ela não estava lá. Era o momento de maior solidão: a casa vazia e triste. Depois de tudo e de nossa decisão de só termos um novo cachorrinho depois que nos mudássemos de país, eis que surge em nossas vidas, Onofre.

Quando um certo alguém

Um gatinho de aproximadamente 4 meses, com as mesmas cores da Jurema, só que com a prevalência do branco sobre o caramelo, apareceu na porta de casa e já ia entrando quando o jardineiro o impediu. Bruno decidiu que iria a uma reunião e que depois o levaria para um lugar seguro e eu resolvi que enquanto isso era melhor mantê-lo no jardim. Decidi que era melhor levá-lo ao veterinário para castrá-lo e dar as vacinas antes de entregá-lo para adoção, visto que em Colombo eram muito comuns gatos de rua. Um problema crônico de super-população, muito embora os srilanqueses tenham por hábito alimentar aos animais. Uma coisa levou a outra, tínhamos a viagem pra China, não deu tempo de castrar e decidimos deixar o gatinho no jardim durante nossa viagem. Voltamos e ele continuava por lá. Manhoso e muito fofinho, ele foi nos conquistando aos poucos e quando percebemos já não queriámos que ele nos deixasse.

Isso junto ao fato das pessoas começarem a dizer de que ele era a reencarnação da Jurema: porque tinha o mesmo tempo de vida que ela tem de morte. Porque ele sempre agiu como se a casa fosse dele e ronronou pra gente desde o primeiro contato. E porque eu tive um sonho 3 dias antes de sua chegada onde a Jurema se transformava num gato. Tantas coincidências foram usadas por nós como motivos para amar este bichano sortudo, que veio parar na casa de pessoas que diziam não gostar de gatos. E assim, 4 meses depois, a casa estava de novo cheia de vida. Saíram os latidos grossos e cheios de graves ranhetas da Juju. Entraram os miadinhos agudos, longos e muito manhosos de Nonô. <3 Parece que o país quis se redimir conosco de alguma forma nos dando este gatinho de presente. 

Encontros e despedidas

Nossa vida no Sri Lanka foi rica, inclusive nas dores. E por termos vivido tudo muito intensamente chegou uma hora que concluímos: chegou a hora de partir. Na verdade, começamos a nos despedir desde que Jurema nos deixou. A sensação foi que íamos desapegando cada dia um pouquinho mais. Tudo o que era pitoresco foi começando a incomodar. Os modos, as formas de solucionar problemas, o modo de agor e pensar das pessoas... tudo isso foi aos poucos nos dando a certeza de que já tínhamos vivido tudo o que havia pra ser vivido neste país. 

No fim, as coisas aconteceram muito rápido e tivemos a chance de percorrer alguns dos países que figuravam como possibilidade de novo destino. Pudemos decidir com clareza, pesar o que seria importante, onde aprenderíamos mais, onde teríamos mais possibilidades de crescimento. E batemos o martelo na China. Tudo aconteceu de uma maneira tão suave que realmente parece que tinha tudo pra ser. Até o fato de não termos mais um cachorro, e sim um gato. Com o frio que vamos enfrentar no inverno de Pequim, um gatinho é muito mais cômodo de lidar que um cãozinho que demanda passeios. 

E, assim como acontece sempre, após a decisão da partida vem a dor das saudades de tudo o que começamos a deixar pra trás. O olhar pela janela do carro passa a perceber coisas que o costume nos tinha roubado. A sensação de frescor e novidade invadindo mais uma vez. A vontade de dar mais uma passeadinha e ir naquele lugar que você sempre quis, mas nunca arrumou jeito. Fora os amigos, a rotina, toda a vida organizada que a gente tinha, por mais que não estivesse perfeita. Tudo mudou com a marcação da data de partida. Fomos felizes aqui. E ainda recebemos novos amigos de presente no fizinho da nossa jornada. No final, ficou a sensação de gratidão.

[Roma] A cidade das 7 colinas esconde muitas cidades diferentes em si mesma.

Quando eu planejei nossa ida à Itália, a opção por terminar a viagem em Roma pareceu natural. A gente não queria fazer uma viagem de pinga pinga, onde se vê tudo e não se curte nada. Mas eu não tive a intenção de iniciar a viagem por uma cidade menor e ir me movimentando pelas cidades maiores gradativamente. Simplesmente aconteceu. E como eu disse num post anterior, acredito que esta decisão se mostrou a mais acertada. À medida em que as cidades vão aumentando em área, população, importância história e, consequentemente, volume de turistas, você percebe que a jornada vai ganhando uma velocidade diferente, mais agitação, mais coisas para ver, mais lugares dos quais você terá de abrir mão para que possa curtir, de verdade, os outros que você preferiu não riscar da lista.

Roma, pra mim, foi sinônimo de encantamento e angústia ao mesmo tempo. Porque eu sabia o que eu estava perdendo. E mesmo que eu me arrebentasse de alegria ao visitar um lugar qualquer da cidade com que eu sempre sonhei, eu sempre tinha aquela sensação de que o tempo me escorria pelas mãos. A cidade é incrível. Com um quê de familiaridade, para quem conhece Nova Iorque. A agitação da cidade está por todo lado. Gente apressada pelos quatro cantos. Um mau-humor que se pode perceber nitidamente, mesmo que você não seja alvo direto dele.

Foi em Roma onde encontrei menos pessoas fluentes e/ou dispostas a falar inglês. Não sei bem se por ignorância da língua, ou se por má vontade mesmo. Mas, proporcionalmente, era de se esperar que os romanos fossem bilíngues. Por outro lado, dá pra compreender um pouco quando você tem o seu espaço sempre invadido por gente querendo saber onde foi que errou no caminho. Consigo entender o mau-humor romano fácil, ranzinza que sou.

Nós tínhamos 4 dias na cidade, que foram reduzidos a 3 para que pudéssemos dar uma escapadela até Nápoles para visitar uma prima querida que mora por lá. As únicas coisas que estavam planejadas eram o apartamento alugado, o jantar num restaurante, de uma estrela Michelin, que ficava ao lado e a audiência papal. Como iríamos ao Vaticano, teríamos somente 2 dias para aproveitar Roma. Então achei melhor a gente deixar as coisas acontecerem. E lá fomos passear pelas ruas a descobrir lugares. 

Uma panorâmica vertical da nave da Santa Maria Maggiore. Foi engraçado porque eu entrei e imediatamente o trabalho do teto tirou a minha atenção do resto. Fiquei olhando pra cima maravilhada e com a boca aberta por um bom tempo. E nem era a Capella …

Uma panorâmica vertical da nave da Santa Maria Maggiore. Foi engraçado porque eu entrei e imediatamente o trabalho do teto tirou a minha atenção do resto. Fiquei olhando pra cima maravilhada e com a boca aberta por um bom tempo. E nem era a Capella Sistina, heim? Achei incrível! 

A primeira parada foi na Igreja Santa Maria Maggiore, que fica próxima ao apartamento onde ficamos. É uma igreja linda e, ao que pareceu, menos visitada que outros lugares da cidade. Descobrimos que havia um tour sendo oferecido para vermos um mosaico bizantino, no segundo andar da igreja e lá fomos nós. 

O mosaico bizantino do século XIII faz parte do que era a fachada original da Igreja. Ela foi aumentada algumas vezes e sofreu com o terremoto de 1348. O terraço que hoje existe protegendo o mosaico é uma das adições feitas ao longo do tempo.&nbsp;

O mosaico bizantino do século XIII faz parte do que era a fachada original da Igreja. Ela foi aumentada algumas vezes e sofreu com o terremoto de 1348. O terraço que hoje existe protegendo o mosaico é uma das adições feitas ao longo do tempo. 

Saindo da igreja, minha mãe manifestou vontade de ir até à Fontana di Trevi. E aí eu comecei a perceber que a cidade tem várias camadas, que depois eu descobri serem parte das tais 7 colinas onde a cidade repousa. Você está andando numa rua e do nada aparecem escadarias/ladeiras para descer ou subir e tudo se transforma em um labirinto que eu estava louca pra me deixar perder, só pra encontrar aqueles lugares que quase ninguém vê. Como mundos à parte, que se abrem quando você ousa ir no contrafluxo. Mas o tempo corria contra, a gente estava com pressa. Nunca me identifiquei tanto com o coelho branco de Alice no País das Maravilhas como nestes dias passados em Roma. A gente estava sempre atrasado para a próxima atração. O desafio era encontrar o buraco certo. 

Achamos o 'buraco" certo!&nbsp;

Achamos o 'buraco" certo! 

Foi a partir desta ida à Fontana di Trevi que eu pude ter contato com o mau-humor italiano. Pedir informações foi complicado. Mesmo com o Google Maps alguns caminhos pareciam difíceis de serem localizados, justamente por conta destas camadas que a cidade tem. Conseguimos achar a fonte por pura ajuda de São Google e algumas teimosias de minha parte. Meu marido já estava ficando irritado porque eu ia sempre por caminhos decididos por instinto + aplicativo. Antes de chegarmos, eu e minha mãe tentamos tomar um sorvete. Fomos totalmente ignoradas pelo atendente do balcão e saímos com a boca cheia de água. Mal sabia o carinha que os italianos já nos tinham conquistado durante a viagem e não seria o mau humor de alguns romanos que nos tiraria o deleite de estarmos passeando por ali. Sem falar que depois encontramos A GELATERIA, cujos sabores e aspecto dos gelatos deixaram os do outro mau humorado com vergonha. 

O mármore Travertino de que é feita a fonte foi trazido de Tivoli, distante 35 quilômetros de Roma.&nbsp;

O mármore Travertino de que é feita a fonte foi trazido de Tivoli, distante 35 quilômetros de Roma. 

O que eu achei mais genial da Fontana di Trevi é que você está lá, andando numa ruela estreita cheia de gente e aparente nada de extraordinário. De repente, abre-se um espaço enorme e você dá de cara com aquela coisa maravilhosa na sua frente. Eu imaginava a fonte muito menor do que é. É gigantesca! 

Essas lojas de embutidos e produtos alimentícios vários são uma perdição. Eu não entro em loja de roupa e calçado, mas posso passar um dia inteiro dentro de um lugar assim.&nbsp;

Essas lojas de embutidos e produtos alimentícios vários são uma perdição. Eu não entro em loja de roupa e calçado, mas posso passar um dia inteiro dentro de um lugar assim. 

O sorvete da Gelateria Valentino é um dos melhores que eu tomei na Itália. Eu iria visitar a fonte de novo só pra tomar um sorvete deles, sentadinha vendo o povo.

O sorvete da Gelateria Valentino é um dos melhores que eu tomei na Itália. Eu iria visitar a fonte de novo só pra tomar um sorvete deles, sentadinha vendo o povo.

Passeamos ao redor da fonte, fizemos o pedido da moedinha pra voltarmos rápido, conversamos um pouco e observamos as pessoas felizes que estavam ali. Depois, fomos atrás de um gelato numa ruazinha à direita da fonte, localizado pelo meu amigo de viagens, o Foursquare. Além de encontramos um gelato delicioso, que oferecia opções sem açúcar (meu pai é diabético), ainda vimos umas lojinhas incríveis e até um Gepetto em ação! Obrigada, sr. mau-humorado!

Olha que lindo!!!!&nbsp;

Olha que lindo!!!! 

De lá fomos andando até chegar no Fórum Imperial, que compreende um conjunto de ruínas incrível, onde você pode se deixar ficar só imaginando as coisas que aconteceram por ali. Lá encontramos um estudante de música exercitando o que aprendeu e ganhando uns trocados. Que lugar engenhoso pra treinar, heim? 

O Fórum fica perto do Coliseu. Não tínhamos nada reservado, mas eu resolvi entrar pra ver se dava pra comprarmos ingresso. Faltava ainda pouco mais de uma hora pra fechar e não tinha fila! Que construção incrível! Observar o por-do-sol lá fora, através das janelas do prédio foi um capítulo à parte. E fiquei maravilhada em encontrar corvos bicolores por lá. 

No dia seguinte fomos ao Vaticano, mas sobre a audiência Papal e a visita ao Museu e à Capela Sistina eu vou falar noutro post. 

Como tínhamos pouco tempo e meus pais já estão com mais de 60/70 anos, resolvemos pegar um daqueles tours de ônibus pra passear pela cidade e decidir o que fazer. Enquanto isso, a gente descansava um pouco, né? Optamos pelo serviço do Roma Christiana, para podermos ver as igrejas da cidade. Demos uma volta inteira e resolvemos descer para ver a Igreja de São João Latrão. Como os restaurantes italianos fecham entre o serviço de almoço e jantar e já eram perto de duas da tarde, resolvemos almoçar primeiro pra depois visitar a igreja. 

Localizei o restaurante I Buoni Amici. Escolha acertadíssima, num bairo pouco turístico, o ambiente sem frescura e completamente tomado por locais nos proporcionou uma experiência romana por excelência. Lá estavam os copos sem frescura pra tomar vinho, os vinhos da casa, os garçons na correria e sem muito tempo pro papo. Eu estava há muito tempo querendo provar um autêntico Cacio e Peppe e foi isso que pedi. Meus pais e Bruno também foram de massa. Um vinho despretencioso, um prato de presunto cru com pão e azeite e estávamos felizes. Tudo transcorreu normalmente. Passamos tempo só curtindo a possibilidade de sermos locais também. Minha mãe treinou seu italiano, fomos muito bem tratados, comemos, bebemos, pagamos a conta e saímos felizes pra igreja.

As visitas às igrejas de Roma me fizeram ficar encantada com o nível de qualidade do trabalho humano naquelas paredes, tetos e pisos cheios de detalhes. Não sou católica, mas sempre gostei de visitar templos religiosos. E em Roma eu descobri que gosto de fazer estas visitas porque o elemento humano envolvido na construção daqueles edifícios incríveis, o sofrimento, a fé e tudo o mais me causam um impacto muito grande. Eu fico boquiaberta. 

Terminamos o dia dando mais uma volta de ônibus panorâmico pela cidade à noite. Descemos próximos à estação de trem e fomos à pé pra casa, nos preparar para irmos à Nápoles no dia seguinte. 

[Florença] Melhor dois dias curtindo esta jóia que só sonhando em visitar...

Berço da família Médici, os criadores do bancos como entendemos hoje, Florença é uma cidade incrível que, infelizmente, visitei por curtos 2 dias e meio. Mesmo assim, as memórias da cidade estão sempre frescas. Aproveitar o que estava disponível pra nós só não foi mais fácil por conta do tempo escasso, mas o gostinho de quero mais que ficou me leva a pensar que já já estarei por lá novamente. 

Vista panorâmica da cidade na Praça Michelângelo.

Vista panorâmica da cidade na Praça Michelângelo.

Perto do hotel em que ficamos, muito bom por sinal, encontramos uma cantina disposta a atender um grupo de 8 pessoas quando faltava menos de 1 hora para a cozinha fechar. Eu, que estava numa expedição culinária regional, não me contive quando vi Ribollita no cardápio e pedi. Antes dela, uma salada e muito vinho. A sopa, que na verdade tem uma textura de quase purê, é feita com vegetais, caldo de vegetais e miolo de pão. Tipo de comida de gente simples e pobre. Os sabores são bem apresentados e o resultado final, apesar de não ter uma apresentação bonita, foi muito bom. 

Ribollita.

Ribollita.

Aliás, quero abrir um parêntese sobre beleza de comida aqui. Nós, no Brasil, estamos numa busca absurda por fazer nossos pratos ficarem bonitos para atrair mais pessoas e tal. Eu percebi na Itália que isso é um sintoma incrível da nossa aclamada "síndrome de vira-latas". A não ser no restaurante estrelado Michelin a que fomos em Roma, todos os outros lugares onde comi os pratos foram apresentados rusticamente como são, sem frescura alguma e com muito orgulho. E digo mais: parte das sobremesas italianas constituem coisas muito semelhantes aos nossos pavês. E enquanto a gente esconde estas coisas no fundo da geladeira, preferindo servir "sobremesa chique", os italianos estão lá, servindo os Tiramisu e as Zuppa Inglese deles do jeitinho que se serve em casa. Fica claro que, muito mais do que o "como servir", a preocupação é "com o ingrediente". Isso faz com que metade da qualidade do prato já esteja garantida. O resto fica a cargo da capacidade do cozinheiro ao reconhecer até onde deve interferir. É claro que apresentação é importante, que a gente come primeiro com os olhos e tudo. Meu ponto é que isso não deve tirar a atenção do sabor e da qualidade do prato. Porque fazer riscos no prato com reduções mil, brunoises e juliennes bem cortadas e servir um prato ruim não dá. Outra coisa que percebi: italianos não servem comidas fumegantes. Não comi nem bebi nada que tenha chegado à minha mesa e tenha sido capaz de me queimar a boca. A ciência da temperatura de servir é algo digno de nota por lá. E chega a ser óbvio: se queimo a língua, passo a não conseguir sentir o sabor da comida propriamente. Fecha parênteses. 

Minha lista de coisas a provar em Florença era gigante. Eu seguia sem encontrar um panetone pra comprar. Queria provar um Lampredotto e já vinha me preparando psicologicamente para comer este famoso sanduíche de tripas, mas o tempo era tão escasso que tive de abrir mão. O jantar daquele dia prometia ser memorável: tínhamos reserva no Il Latini, restaurante concorridíssimo da cidade, que costuma ter uma multidão esperando por mesas assim que eles abrem as portas, às 19h30. Chegamos lá e comprovamos. Era muita gente aglomerada. Parecia rinha de galo. Eu fui indo direto pra porta porque tinha reserva e já sabia da treta. À medida em que chegava perto da entrada, as pessoas foram tentando me barrar. "Eu tenho reserva!" gritei para o rapaz que tomava conta da porta. "8 pessoas!". - Ah, Sra Paula, por favor entre. Eu nunca vi tantas caras furiosas olhando pra mim na minha vida. Meus familiares também foram barrados atrás de mim, uma loucura! Mas todo mundo conseguiu entrar ileso e se sentindo o máximo por ter reserva num lugar tão disputado. Se eu estivesse trabalhando por gorjetas, aquele era o momento de pedi-las. Iria ganhar muitos euros! 

O restaurante é incrível! Você entra e vê um monte de presuntos crus pendurados no teto. A nossa mesa estava lá, enorme, só pra gente. O garçon chegou, se apresentou, nos falou sobre o sistema de funcionamento da casa - à la carte ou menu fechado. Escolhemos e esperamos.

O vinho da casa. Honestíssimo pelo preço/garrafa cobrado.

O vinho da casa. Honestíssimo pelo preço/garrafa cobrado.

Presunto cru, meu amor!

Presunto cru, meu amor!

Salada de farro e torradas com patê de fígado.

Salada de farro e torradas com patê de fígado.

Foi uma festa italiana incrível, culminando em Cotolettas Fiorentinas. Enormes, servidas à maneira deles, muito tostada por fora e quase crua por dentro. Isso significa que se você gosta de carne bem passada vai passar aperto. Porque eles nem perguntam como você gosta do ponto da carne. É assim!

As famosas Cotolettas!&nbsp;Optamos por um menu fechado. Comida e bebida incluídas e à vontade. E era MUITA comida!

As famosas Cotolettas! Optamos por um menu fechado. Comida e bebida incluídas e à vontade. E era MUITA comida!

Fazia tempo que não comíamos carne de verdade! Especialmente eu e meu marido, já que no Sri Lanka a carne bovina é de péssima qualidade. A finalização foi com Vin Santo e Cantuccini. Não havia espaço para sobremesa, infelizmente. Comemos e bebemos muito, os garçons fazendo piada pra nos agradar. Um deles havia morado no Brasil e volta e meia vinha pra dizer o que tinha aprendido sobre nosso país. Meu tio ficou encantado com o vinho da casa e comprou umas 10 garrafas. Saímos todos com a certeza de que foi uma noite memorável de boa comida, ótima conversa, bom vinho e atendimento impecável. Meu pai estava todo feliz. Fomos dormir porque não tinha jeito, o dia já tinha acabado e tínhamos um passeio no dia seguinte à região de Chianti.

O carrossel.&nbsp;

O carrossel. 

Passamos nosso último dia na Piazza della República. Há uma feira incrível nos fins de semana. Nela você encontra tantas coisas excelentes pra comer e comprar que, se descuidar, passa o dia inteiro. Encontramos alguns brasileiros trabalhando em algumas barracas e daí tudo virava aglomeração. Comemos gorgonzola cremoso, mostarda de cremona feita com castanhas portuguesas, canolo de ricota com pistache e muito gelato! Tomamos cerveja, compramos presentes, andamos no carrossel...

Doces, queijos, pães...

Doces, queijos, pães...

... embutidos, molhos, carnes curadas...

... embutidos, molhos, carnes curadas...

Pratos prontos, Ribollitas, Lampredottos.

Pratos prontos, Ribollitas, Lampredottos.

Muita comida!

Muita comida!

Estes canoli estavam divinos!!!

Estes canoli estavam divinos!!!

Até nos lembrarmos que ali pertinho estava o objetivo principal de nossa passagem pela praça: ao final dela, dobrando à esquerda e descendo alguns metros, observamos estupefatos a Cattedrale Santa Maria del Fiore! Fiquei pensando: "Será que os florentinos já estão tão acostumados com esta beleza que passam por ela sem olharem?". É uma construção tão magnífica que eu lamentei que haja tanta construção ao redor dela. Queria poder me afastar uns longos passos para poder admirá-la inteira. Ao invés disso, me vi circundando-a várias vezes, procurando absorver aquela maravilha que eu tinha diante dos meus olhos. Minha vontade era subir no mirante da torre, mas a fila estava enorme e não daria pra ver muito mais da cidade se fizesse isso. Mas consegui vê-la por dentro! 

É uma construção tão magnífica que eu lamentei que haja tanta construção ao redor dela. Queria poder me afastar uns longos passos para poder admirá-la inteira. Ao invés disso, me vi circundando-a várias vezes, procurando absorver aquela maravilha que eu tinha diante dos meus olhos. Minha vontade era subir no mirante da torre, mas a fila estava enorme e não daria pra ver muito mais da cidade se fizesse isso. Mas consegui vê-la por dentro! 

Os afrescos na parte interior da cúpula.&nbsp;

Os afrescos na parte interior da cúpula. 

Numa das voltas que dei, encontrei um restaurante bastante escondido e simpático. Consultei meu Foursquare pra ver se era bom e li um monte de italianos elogiando. Estávamos esperando metade do grupo que tinha se desgarrado em compras. Entrei, perguntei se haveria mesa disponível para 8 pessoas. A garçonete fez uma careta e chamou o dono. Ele me disse: "É claro! Vai demorar um pouco, pode ser?". Nos sentamos nas mesas do lado de fora, pedimos um vinho e fomos esperando o povo chegar. Daí, Patrício, o dono, passou a tomar conta da gente. Eu realmente entrei com receio de perguntar se nos atenderiam porque grupo grande é um problema e os italianos são muito práticos. Se é não é não. Diferente do que eu esperava Patrício foi de uma gentileza e simpatia conosco que eu fiquei encantada! Uma hora, minha irmã perguntou algo sobre o menu para ele, em inglês. Ele a interrompeu: "Pode falar português! Tão mais lindo que o inglês. O inglês é uma língua muito pobre!". Ganhou o grupo todo e a gente ficou felizinho tomando vinho lá fora, no frio. Logo a nossa mesa estava pronta e nosso grupo todo já havia chegado. Entramos, pedimos, comemos, bebemos, Patricio fez piadas, falou de futebol e foi tudo uma delícia! A comida estava bem gostosa, comi umas linguiças com feijão que estavam ótimas, mas o melhor do restaurante foi a acolhida. E eu que esperava receber um não logo de cara...

Tem muita coisa pra ver em Florença. Em 2 dias e meio não conseguiríamos ver muita coisa. Mas uma delas eu precisava fazer: ver a escultura original do Davi, de Michelângelo. Primeiro porque eu sempre gostei de esculturas: acho que são a minha expressão artística favorita. Segundo, porque tem uma alegoria psicológica atribuída a Michelângelo onde ele, respondendo a pergunta de como definia o que seria esculpido, disse que o Davi, por exemplo, já estava lá, dentro da pedra. Que ele, o escultor, tinha por trabalho somente ajudá-lo a sair de dentro dela. Terceiro por conta de um artigo divertidíssimo do The New York Times, onde conta-se a história da escultura desde antes de Michelângelo nascer e de como ela está fadada a se espatifar em mil pedaços num terremoto mais severo, caso o governo Italiano não tome as devidas providências a tempo. A Galleria dell'Academia foi construída para abrigar o primeiro Davi. Ao chegar no lugar onde está a estátua você precisa andar por um corredor com obras de Michelângelo dispostas dos dos lados, formando um corredor de esculturas.

Ao chegar no lugar onde está a estátua você precisa andar por um corredor com obras de Michelângelo dispostas dos dos lados, formando um corredor de esculturas. As duas (não tenho certeza se são só duas ou mais) últimas, logo antes do majestoso Davi, são obras inacabadas do mestre escultor e são tão incríveis quanto a sua obra prima. Porque eu poderia passar horas tentando adivinhar o processo de trabalho dele só olhando as marcas dos utensílios utilizados, as formas ainda indefinidas do que viria a ser o trabalho completo. Espetacular! O Davi é realmente de tirar o fôlego. E as outras obras também. Há uma outra sala onde há uns vídeos mostrando processos de escultores e outras coisas interessantíssimas. Valeu a ida à cidade. 

No mais, passeamos bastante, vimos um pouco do que estava mais acessível, passamos pela Ponte Vecchio, fomos à Piazza Michelângelo, de onde pode-se ver a cidade inteira (primeira foto do post), ouvimos músicos de rua, paramos para admirar as esculturas ao ar livre, os artistas que tentavam ganhar a vida mesmo no frio.

Este artista passou o dia reproduzindo esta obra de arte no passeio, com giz de lousa.&nbsp;

Este artista passou o dia reproduzindo esta obra de arte no passeio, com giz de lousa. 

Florença nos recebeu muito bem e manteve suas portas portas abertas pra quando a gente quiser visitá-la de novo. E pelo que estou sentindo de saudades, não deve demorar muito.

[Itália] Não importa quantos dias você vai passar por lá. Sempre serão insuficientes...

Estive na Itália há três meses e ainda estou encantada com tudo o que experimentei. A ida a este país sempre fez parte da minha lista de "viagem dos sonhos". Ao mesmo tempo esteve sempre tão distante que, quando comprei as passagens, automaticamente comecei a duvidar que a viagem de fato aconteceria. Ainda bem que tudo deu certo! Foi a minha primeira vez na Europa, muito embora tenha quase ido à França por 3 vezes, sem sucesso. E não deixa de ser interessante que tenha sido justamente a Itália quem tenha me recebido pela porta da frente, com sua gastronomia cheia de amor, família e arte. Descomplicada e simples como uma refeição na casa da sua avó. 

Ao pensar num destino de viagem, a primeira coisa que me vem à cabeça é a comida. Como será? Quais pratos provar? A quais restaurantes ir? Enquanto isso muita gente me aconselhava a não perder os artigos belíssimos de couro que podem ser encontrados pelas ruas do país afora, além de tentarem me convencer a incluir Veneza na viagem, porque a cidade está afundando. Mas eu só pensava em provar pratos específicos, a não ficar pulando de cidade em cidade sem aproveitar nenhuma e fazia a minha listinha de comidas típicas de cada região a ser visitada. Como a "comida italiana" não é algo assim tão misterioso pra ninguém no mundo, a gente tem aquela expectativa de que vai se esbaldar naqueles pratos que "já estamos cansados de comer". Só que eu queria provar os pratos in loco, sem as adaptações que fazemos para agradar aos nossos hábitos, sabores, texturas, aromas e aparências que já temos como referência. Porque quando você tem a oportunidade e ir provar as coisas "na origem", pode perceber as diferenças (muitas vezes sutis) que fazem com que o prato tome uma dimensão completamente única, proporcionando a compreensão daquela cultura de uma forma muito além do que se poderia imaginar no início. Você descobre depois disso que não conhece nem 10% da variedade do que há por lá. Percebe que o que acha que conhece são adaptações. E também descobre que não existe "comida italiana", cada região tem suas especialidades.

Nosso itinerário começou por Bolonha, na Emília Romana. A região é famosa especialmente pela comida e a cidade ainda não é um reduto de turistas estrangeiros. Porém, apesar das informações de que seria difícil encontrar italianos que falassem inglês pra estabelecer uma comunicação satisfatória, não tivemos problemas. Bologna é uma cidade universitária e muitos estudantes trabalham em lojas e restaurantes. Então encontramos quem nos atendesse em inglês com relativa facilidade. Ao mesmo tempo, você consegue perceber, especialmente quando vai pra outras cidades turísticas famosas do país, que Bologna tem uma aura diferente: os turistas que vão pra lá ainda são em sua maioria de outras regiões do próprio país; escutam-se poucos idiomas além do italiano. Não há paus-de-selfie pelas ruas. E algo que particularmente me deu uma sensação de aconchego: consegui me misturar entre os nativos com muita facilidade. Deixei de chamar a atenção como acontece no Sri Lanka e me lembrei como passar despercebida na multidão é bom. Acho que não saberia ser famosa e reconhecível pelos quatro cantos do planeta. O anonimato é uma bênção! Clicando no nome da cidade você poderá ler o texto que escrevi sobre a cidade e saber um pouco mais.

Antes de seguirmos viagem, passamos um dia visitando a produção de 3 dos grandes produtos da região e que são emblemáticos da gastronomia italiana no mundo todo: Parmigiano Reggiano, Presunto cru (de Modena, no caso, que segue praticamente as mesmas regras de produção do de Parma, mas em demarcações distintas) e o Aceto Balsâmico. Tudo isso finalizado com um almoço no estilo italiano, com antipasto, primo piatto, secondo piatto e dolce, além de muito vinho. De morrer!

Da Emilia-Romana descemos para Florença. E antes de chegar na cidade meu coração já doía por saber que seriam só 2 dias e algumas horas nesta cidade cheia de coisas a serem vistas com calma. Florença não é lugar de correria. Uma das cidades mais bonitas que já vi, precisa ser explorada com calma. Por isso a única programação que tínhamos era um passeio pela região vinícola de Chianti. Passeio este meio decepcionante em termos de organização, mesmo que com algumas partes excelentes. De todo modo tudo é experiência e como nós éramos um grupo de 8 pessoas, nossa mobilidade era menor. Uma curiosidade: foi na Toscana onde eu comi a pior lasagna da minha vida! Quem diria, né? 

De Florença o grupo se dividiu e descemos para 4 dias em Roma. E aí o ritmo da viagem acelerou consideravelmente. Descobri que há tantas Romas a serem apreciadas que provavelmente uma só vida seja insuficiente para conhecer todos os seus segredos a fundo. Roma também me provocou ares de familiaridade. Em alguns momentos me lembrou Nova Iorque e sua atmosfera mais cosmopolita. Tantas coisas a fazer, passeios, museus, prédios históricos, restaurantes, pontos turísticos... A cidade te põe numa velocidade diferente por conta de tudo o que você sabe que precisa ver.

Surpreendentemente foi em Roma onde encontrei menos italianos fluentes em inglês. E também foi o lugar onde pudemos experimentar um pouco do mau-humor italiano. Por isso eu cheguei à uma conclusão. Roma deve figurar no fim de uma viagem à Itália, não no começo. Porque iniciando por lá, algum destes ruídos podem contaminar seu humor e a sua percepção de como o país e seu povo podem ser acolhedores e interessados em agradar. A hospitalidade do italiano é algo do qual vou me lembrar para sempre, fazendo com que mesmo os probleminhas que tivemos em Roma se tornassem pitorescos, até porque não foram nada tão difícil de superar. Geraram, inclusive, muitas risadas. 

No meio da passagem por Roma demos uma esticada a Nápoles, onde eu sempre quis ir. A curiosidade pela verdadeira pizza Napolitana e pelas ruelas com varais de roupas espalhados entre os edifícios me guiavam para lá. Mas o objetivo da ida até esta cidade era encontrarmos uma prima que mora há muito tempo no país e que hoje radicou-se numa cidade pequena, perto de Nápoles, com a família. Passeamos um pouco pelo centro histórico, cheio de prédios sendo restaurados, e fomos apresentados a algumas delícias locais. A ruazinhas de varais ficaram para depois. E a pizza? Hahahaha.

No fim, a sensação de que mesmo se morasse no país eu não conseguiria ver tudo o que tenho vontade. Fizemos um amigo, aqui no Sri Lanka, que morou por 17 anos em Roma. Ele diz, categórico, que mesmo viajando com os pais praticamente todos os finais de semana, ainda sim ele não conheceu o país todo. E aí me vem uma afirmação que minha mãe faz toda vez que alguém a elogia pelo gosto por viagens: "Seriam necessárias muito mais que as 7 vidas de um gato para que eu pudesse ir a todos os lugares que tenho vontade." Oxalá eu consiga fazer pelo menos metade do que pretendo. 

[Memphis] A cidade que revelou Elvis Presley ao mundo é muito mais do que apenas a cidade do Rei

Tivemos a oportunidade de ir a Memphis duas vezes. Na primeira, quando terminamos uma viagem de barco à vapor subindo o Rio Mississippi. Nesta ocasião, tínhamos apenas um dia na cidade e claro que resolvemos fazer o passeio em Graceland! Embora muita gente diga que a casa é de gosto duvidoso, a visita ao lugar onde Elvis Presley viveu proporciona muito mais do que se imagina. A infraestrutura montada para receber os turistas é muito semelhante à encontrada na Disney. É um complexo incrível, mistura de museu e parque de diversões capaz de converter até os mais desconfiados.

A fachada de Graceland.

A fachada de Graceland.

A casa é incrível! Transformada em museu, é um lugar pra celebrar a vida de um dos maiores expoentes do Rock n Roll. O segundo andar - onde fica o banheiro onde ele faleceu - não está aberto à visitação pública, decisão que considerei muito acertada. O tour vale demais e é importante fazê-lo no seu próprio ritmo para não perder os detalhes da decoração e procurar capturar um pouco do que era a intimidade do Rei do Rock. No fim do itinerário, eu confundi o barulho da fonte com aplausos e me emocionei muito. Coisa de fã. Recomendo fazer a visita à casa principal logo na primeira hora de abertura. Embora a sede tenha lotação máxima observada e as pessoas sejam divididas em grupos por horário, se você chegar no momento da abertura, garantirá mais tempo pra curtir a etapa principal do parque.

Um dia é tempo suficiente para conhecer Graceland, mas dois dias seriam o mais indicado pra quem é muito fã. Há hotéis perto do complexo, alguns inclusive fazem parte dele. Além da casa, são inúmeros galpões e salas onde é possível ver os carros que ele tinha; os figurinos utilizados e sua evolução até aqueles famosos, inspirados em quimonos, da temporada de Las Vegas; os instrumentos utilizados por ele; os prêmios que Elvis ganhou; vídeos e mais vídeos sobre ele (programas de TV, entrevistas, filmes de Hollywood, filmes caseiros...); os aviões totalmente transformados por dentro; além das indefectíveis lojinhas com os mais diversos souvenires

A porta de entrada da Sun Studio.&nbsp;

A porta de entrada da Sun Studio

De lá, você pode pegar um microônibus da Sun Studio e ir visitar a gravadora onde Elvis gravou seu primeiro single. Há um tour disponível, em inglês, para conhecer as instalações, ouvir as gravações (inclusive uma das primeiras do Rock 'N' Roll), além de poder visitar a sala onde Elvis, Johnny Cash, Roy Orbison e Jerry Lee Lewis, entre outros, gravaram seus discos. O Studio tem um microfone antigo, que os funcionários juram de pés juntos ser o mesmo utilizado por Elvis. A sala onde ele está também permanece original quando daquela época. Emoção pura!

A parte principal da Sun Studio que hoje funciona como um museu. Um lugar pra tomar um café ou uma cerveja e comprar souvenires. Não deixe de fazer o tour!!!

A parte principal da Sun Studio que hoje funciona como um museu. Um lugar pra tomar um café ou uma cerveja e comprar souvenires. Não deixe de fazer o tour!!!

Como tínhamos somente um dia na cidade, foi o que conseguimos fazer, além de passar rapidamente pela Beale Street só pra ver como era. Um ano e meio depois, tivemos a oportunidade de voltar à cidade, numa viagem complementar à do barco. Desta vez fizemos o itinerário no sentido contrário, incluímos Chicago, Tupelo e Clarksdale com parte da Rota do Blues, até chegar a New Orleans. Tudo isso usando trem e carro. Aproveitamos pra voltar à famosa Beale Street, rua de bares com música ao vivo, onde tudo acontece. BB King montou um bar que ainda funciona por lá e há outros bares temáticos. Paga-se para entrar na maioria deles, como um couvert artístico. Na Beale Street você poderá conhecer um pouco da atmosfera da Memphis atual, que ainda flerta bastante com o passado de glória e música.

Beale Street à noite.

Beale Street à noite.

Importante dizer que na maioria destes bares ouve-se música muito boa, mas as opções de drinks são poucas e em sua maioria preparados com misturas pré-prontas. O resultado final é medíocre. Quanto aos petiscos oferecidos, não chegam nem perto do que nós, brasileiros, estamos acostumados a comer num bar. Melhor jantar antes de ir e curtir só a música e a cerveja. 

Banda que assistimos no Rum Boggie Café&nbsp;na Beale Street.

Banda que assistimos no Rum Boggie Café na Beale Street.

Pertinho desta rua há uma das fábricas da Gibson, onde você pode visitar o processo de produção e ver algumas guitarras sendo construídas em tempo real. É importante reservar com antecedência, por motivos óbvios! E vale a ida. A maior fábrica da marca está em Nashville, onde não conseguimos ir por falta de tempo, infelizmente. Para os que gostam de música Country, assim como a Trilha do Blues existe demarcação para a Trilha da música Country. Eu gostaria de fazer mais trechos destas rotas. Achei uma boa maneira de viajar pela história da música americana. 

Logo mais adiante há um museu sobre música, o Rock N'Soul, que faz parte dos museus da rede Smitsonian. Infelizmente não pudemos ir, escolhemos ir a um museu de Soul Music mais distante, cujo prédio era histórico. Seria uma oportunidade de conhecer os arredores do centro da cidade, também. 

Entrada da fábrica de Memphis. Nesta fabricam-se guitarras. É uma unidade pequena, a maior delas funciona em Nashville que infelizmente ficou de fora desta viagem.

Entrada da fábrica de Memphis. Nesta fabricam-se guitarras. É uma unidade pequena, a maior delas funciona em Nashville que infelizmente ficou de fora desta viagem.

Estou me referindo ao Stax Museum que fica uns 10/15 minutos distante do centro. Lá é possível conhecer um pouco mais da história da Soul Music americana. Há muitos vídeos, figurinos e equipamentos de estúdio, num acervo muito bem catalogado e disponível para os fãs de música. Vale a pena! Andar na cidade é muito fácil e há Uber disponível pra vencer as distâncias maiores. Tudo muito simples e você ainda pode conversar um pouco com o motorista sobre a cidade. 

Memphis ainda é a cidade onde Aretha Franklin nasceu. Até passamos em frente da casa da sua família, mas ela está fechada e parece abandonada. Mas a cantora só viveu os dois primeiros de sua vida ali. A cidade é, também, onde All Green é reverendo numa igreja depois de ter largado a indústria fonográfica. Não conseguimos ir assistir à uma missa celebrada por ele, dizem que é algo espetacular. A igreja fica bem distante do centro da cidade e está aberta ao público. Uma pena termos perdido essa! Isso tudo entre vários outros fatos que fazem com que a cidade seja um lugar de muito passeio e diversão para os fãs de música. Tenho motivos suficientes para voltar à cidade uma terceira vez e acredito que isso vai acontecer mais cedo do que imagino. Aguardemos.

Placa do Motel Lorraine, última hospedagem de Martin Luther King Jr.

Placa do Motel Lorraine, última hospedagem de Martin Luther King Jr.

Mas gostar de música não é o único motivo que me trouxe aqui. O Museu Nacional dos Direitos Civis é um dos marcos na minha vida. Desde criança que o tema da escravidão, marginalização e a luta por direitos iguais da comunidade negra no mundo todo me chama a atenção. E este museu sempre esteve entre os lugares que eu queria visitar um dia. Foi a realização de um sonho. Mais até do que visitar Graceland

&nbsp;A fachada do Motel.

 A fachada do Motel.

Eu imaginava que o museu era sobre Martin Luther King Jr, já que foi erguido no mesmo motel onde ele fora assassinado. Mas descobri que, como o próprio nome diz, é um lugar que celebra a memória de todos aqueles que lutaram e lutam por igualdade nos EUA.

Um dos inúmeros cartoons sobre a desigualdade entre negros e brancos nos EUA, dentro do National Civil Rights Museum.

Um dos inúmeros cartoons sobre a desigualdade entre negros e brancos nos EUA, dentro do National Civil Rights Museum.

É uma celebração do trabalho ao qual MLKJr se dedicou até a morte. Ele estava na cidade para apoiar um movimento grevista de trabalhadores da área de saneamento. Foi assassinado um dia depois de um discurso onde ele mencionou um atentado que sofreu muito tempo antes e de como ele estava feliz por não ter morrido naquela ocasião. O fim do discurso foi assim: 

And they were telling me, now it doesn’t matter now. It really doesn’t matter what happens now. I left Atlanta this morning, and as we got started on the plane, there were six of us, the pilot said over the public address system, “We are sorry for the delay, but we have Dr. Martin Luther King on the plane. And to be sure that all of the bags were checked, and to be sure that nothing would be wrong with the plane, we had to check out everything carefully. And we’ve had the plane protected and guarded all night.”

And then I got to Memphis. And some began to say the threats, or talk about the threats that were out. What would happen to me from some of our sick white brothers?

Well, I don’t know what will happen now. We’ve got some difficult days ahead. But it doesn’t matter with me now. Because I’ve been to the mountaintop. And I don’t mind. Like anybody, I would like to live a long life. Longevity has its place. But I’m not concerned about that now. I just want to do God’s will. And He’s allowed me to go up to the mountain. And I’ve looked over. And I’ve seen the promised land. I may not get there with you. But I want you to know tonight, that we, as a people, will get to the promised land. And I’m happy, tonight. I’m not worried about anything. I’m not fearing any man. Mine eyes have seen the glory of the coming of the Lord.

Muitos acreditam que MLKJr previu sua morte. Mas uma pessoa que vivia sendo perseguida e ameaçada, além de ser alvo de investigações e ameaças do FBI não poderia agir de outra maneira. No dia seguinte, foi morto por um tiro disparado do prédio em frente ao motel, quando estava na varanda perto da porta. 

O museu compreende o Lorraine e o prédio de onde o assassino disparou. O motel concentra a história dos negros nos EUA, desde a chegada ao país como escravos, passando pela Guerra Civil Americana, a abolição da escravatura, a vida nas fazendas de algodão como empregados e outros pontos importantes, até a morte do reverendo. O prédio de onde o tiro foi disparado preserva o quarto onde o assassino estava hospedado e o banheiro de onde ele disparou a arma. Neste prédio, além de você poder olhar pela janela vizinha àquela onde a arma estava colocada e visualizar a trajetória da bala que matou King, ainda é possível visitar uma linha do tempo que tenta esmiuçar a investigação de sua morte, não omitindo a possibilidade de o reverendo ter sido eliminado por ordem do governo à época. O fim da exposição é a ascendência de Barack Obama à presidência dos EUA. 

O museu é um dos mais importantes que já visitei na vida. É um lugar onde eu senti que a luta por aquilo que acreditamos não só é possível, como necessária. Que nós, por mais anônimos que sejamos não somos desimportantes na luta por direitos e cidadania, e sim protagonistas dela. Saí de lá emocionada e muito agradecida por ter podido voltar à cidade e fazer esta visita. Deixei Memphis uma pessoa muito melhor do que cheguei. E por isso serei eternamente ligada à esta cidade. Quer um conselho? Vá e reserve pelos menos 5 dias para curti-la com tudo o que tem direito. Valerá demais, tenha certeza!

Mudança de Ares: o Expresso Canela agora tem sede no Sri Lanka!

Um dos motivos pelos quais o blog tem esse nome é que, de tempos em tempos, eu me mudarei de cidade e de país. Com o objetivo de conhecer bastante a gastronomia local, nada melhor que um espaço como esse para compartilhar as experiências. E depois de quase 4 anos em solo estadunidense, eis que nos mudamos de mala, cuia, computador e cachorrinho para o Sri Lanka, capital: Colombo.

Jurema, em sua primeira aparição no Blog. Ainda em Miami, já estávamos empacotados, rumo ao aeroporto.

Jurema, em sua primeira aparição no Blog. Ainda em Miami, já estávamos empacotados, rumo ao aeroporto.

Uma curiosidade antes de prosseguir. Esta é a segunda vez que um concurso culinário prediz onde morarei. Em 2011 participei de um concurso de uma revista paulistana, cujo prêmio maior era representar o Brasil numa feira de alimentação que ocorreria em Miami. Não ganhei, mas fui morar na cidade um ano depois. Ano passado, participei de um concurso cujo prêmio era passar uma semana viajando pelo Sri Lanka, gravando vídeos e escrevendo sobre as experiência gastronômica no país. Não fui selecionada, mas cá estou eu pra morar por aproximadamente 2 anos e meio. Qual será o próximo destino? Confesso que não estou com tanta pressa assim pra descobrir. 

A vista que temos do quarto do hotel. Um grande empreendimento imobiliário chinês está tomando corpo. Atrás, uma lagoa e logo adiante, o Oceano Índico.&nbsp;

A vista que temos do quarto do hotel. Um grande empreendimento imobiliário chinês está tomando corpo. Atrás, uma lagoa e logo adiante, o Oceano Índico. 

Chegamos no dia 13 de janeiro. Com as dez horas e meia de diferença de fuso horário com Miami e 7 horas e meia de diferença com o Brasil, ainda era 12 de janeiro pelas bandas de lá. Desde então estávamos lidando com os efeitos do jet lag e tentando ajustar nossos relógios biológicos ao horário local. Às 6 horas da tarde (7h30 da manhã em Miami) eu era acometida por um sono incontrolável. Acabava sendo vencida, Jurema se achegava e dormíamos juntas. Tudo errado! Uma semana depois, consigo não sucumbir ao sono durante o dia. Mas ainda tenho ido dormir mais cedo que o meu normal. Acho que vou aproveitar e deixar assim. Acordar mais cedo tem sido bom. Como estamos hospedados num hotel temporariamente, até acharmos uma casa e nossos móveis chegarem, o café da manhã tem sido bastante agradável e educativo acerca das comidas típicas daqui. Alguns exemplos:

Meu primeiro café da manhã Cingalês. Frutas com gosto bem parecido com as do Brasil.&nbsp;

Meu primeiro café da manhã Cingalês. Frutas com gosto bem parecido com as do Brasil. 

Esse é o Hopper, uma panqueca feita com leite de côco, farinha de arroz e sal, servida com um ovo cozido dentro. Por cima eu espalhei um pouco de Pol Sambol, um condimento de côco ralado com pimenta. Delicioso!

Esse é o Hopper, uma panqueca feita com leite de côco, farinha de arroz e sal, servida com um ovo cozido dentro. Por cima eu espalhei um pouco de Pol Sambol, um condimento de côco ralado com pimenta. Delicioso!

O chá é o grande destaque entre as bebidas aqui. O Sri Lanka é um dos maiores produtores de chá do mundo. Essa marca é uma das mais famosas.

O chá é o grande destaque entre as bebidas aqui. O Sri Lanka é um dos maiores produtores de chá do mundo. Essa marca é uma das mais famosas.

Há sempre opções indianas no cardápio. Esse era um pão chato e bem fino e crocante, recheado de batatas condimentadas. Ao lado um pouco de chutney de côco e um tomate assado que achei em outra ilha de comida.&nbsp;

Há sempre opções indianas no cardápio. Esse era um pão chato e bem fino e crocante, recheado de batatas condimentadas. Ao lado um pouco de chutney de côco e um tomate assado que achei em outra ilha de comida. 

O contato com a comida tem sido um capítulo à parte. Eu gosto muito de comida indiana e de pimenta. A comida cingalesa tem muitas semelhanças com a comida do país super populoso ao norte. Até porque o Sri Lanka fez parte da grande Índia, antes da independência. Dizem que a comida cingalesa é muito mais apimentada que a indiana. Comparada com as adaptações que conheço até agora, é mesmo. Preciso ir à Índia para confirmar se isso é verdade. O fato é que eu já achei que quase fosse morrer (ao menos que a minha boca explodiria para sempre) de tanta especiaria num único prato. Percebi, na prática, uma das vantagens de se comer comida extremamente temperada por aqui: você come, transpira, pega um ventinho e refrigera. No calor daqui isso é sempre uma grande vantagem! Porém, confesso que fiquei preocupada como meu corpo reagiria a tanto condimento. Até agora, com excessão da boca, o restante do meu sistema digestivo deu conta numa boa. O que é ótimo! 

Encontrar uma casa tem sido um desafio. Para um casal sem filhos e com um cachorro, achar uma casa pequena tem sido complicadíssimo! Cachorros não são admitidos em praticamente nenhum prédio da cidade. A corretora me contou que muçulmanos não têm uma boa relação com cães e os consideram impuros. Para evitar confusões, os condomínios vetaram. Daí a necessidade de morarmos em casa desta vez. 

Aqui as construções são mais antigas, em estilo colonial e com muitos quartos. Acima de 4 é o normal. Isso sem falar em dependência de empregados, algo muito comum por aqui. Tanto que as casas têm até duas cozinhas! Pra quem estava acostumada a fazer todo o serviço de casa, tem sido tudo muito interessante e estranho. 

Vista de um apartamento que eu vi e que surpreendentemente aceita cães. Infelizmente, Colombo fica a oeste da ilha do Sri Lanka. Isso significa dizer que pra ter uma vista linda desta, é preciso passar o calor infernal de ter o apartamento virado pa…

Vista de um apartamento que eu vi e que surpreendentemente aceita cães. Infelizmente, Colombo fica a oeste da ilha do Sri Lanka. Isso significa dizer que pra ter uma vista linda desta, é preciso passar o calor infernal de ter o apartamento virado para o poente. Confesso que fiquei meio tentada a desconsiderar isso, mas...

O sol, pondo-se no mar.&nbsp;

O sol, pondo-se no mar. 

Após uma semana de chegada posso dizer que várias histórias deverão aparecer por aqui. É tudo muito novo, desde as pessoas te olhando na rua como se você fosse um ET, passando por templos budistas espalhados pela cidade, as comidas incríveis, o povo hospitaleiro, as roupas das mulheres, as festas... Por falar em roupa e festa, hoje aconteceu um casamento no hotel. Segue uma foto das convidadas, para ter uma idéia.

Gordurinhas a mais aqui parecem ser consideradas charme.&nbsp;Já gostei!

Gordurinhas a mais aqui parecem ser consideradas charme. Já gostei!

[Chicago] 4 dias numa cidade com programação pra mais de ano.

Em julho último Bruno e eu fizemos uma viagem complementar àquela de barco no rio Mississippi. Por conta do cancelamento de nossa ida à Clarksdale naquela época, a viagem não estava completa. Encontramos um jeito de sanar isso fazendo o caminho inverso do percurso, só que desta vez por terra e incluindo Chicago. Queríamos voltar a Memphis e a Nova Orleans, além de passear um pouco pelo interior do estado do Mississippi, daí este roteiro pareceu mais do que propício. 

Uma das esculturas mais famosas da cidade, The Bean, no Millenium Park.

Uma das esculturas mais famosas da cidade, The Bean, no Millenium Park.

A cidade já foi cenário de vários filmes que hoje são considerados cult, como 'Curtindo a Vida Adoidado' e 'Os Irmãos Cara de Pau'. Com estes filmes em mente, deu pra reconhecer a cidade em alguns pontos e sentir certa familiaridade. Mas eu confesso que minha primeira impressão de Chicago foi algo como um desapontamento. Eu a tinha como algo próximo a Nova Iorque e encontrei uma cidade com a estrutura parecida com a da maioria das outras grandes cidades americanas, com um centro de arranha-céus e um grande parque, com o restante da cidade bem espalhado. Mas a decepção se transformou em encantamento rapidinho, porque há tantas coisas pra ver e fazer na cidade que você fica até sem saber por onde começar. Daí, aproveitamos para turistar um pouco, coisa que Bruno não costuma fazer em viagens. A reviravolta aconteceu assim que visitamos o incrível Instituto de Artes da cidade. Ele deu uma de Cameron e quis fazer tudo diferente depois de ver o quadro de Georges Seurat de perto. A maioria das obras mostradas no filme fazem parte do acervo permanente do Museu, então pudemos vê-los todos pessoalmente. Detalhe irritante dos vários chineses, com câmeras super potentes, tirando a mesma foto 5 vezes do mesmo quadro. Como eu tenho preguiça de gente tirando fotografia em museus e atrapalhando os outros de curtirem as obras...

Bruno quis visitar todos os museus ao mesmo tempo agora. E eu tive de dosar isso pra ele não enlouquecer e esquecermos que havia uma cidade lá fora querendo ser descoberta também. O tour pelos museus foi bastante legal, especialmente os que se localizam no centro da cidade, com destaque pra melhor vista do Skyline de Chicago, no Planetarium. Eu gosto muito de fazer estes passeios, mas também gosto muito de bater perna na rua e descobrir coisas ao acaso. Daí minha intenção de controlar um pouco os impulsos museólogos dele. Acho que consegui. 

A vista que se tem da cidade, quando se está no café do Adler Planetarium.&nbsp;

A vista que se tem da cidade, quando se está no café do Adler Planetarium

O Lurie Garden fica logo depois do The Bean e da Concha Acústica do Millennium Park, entre eles e o Art Institute. Tem de ficar atento pra ver a entradinha pra ele, que parece um labirinto. E lá estavam flores de todos os tipos, insetos e gente, tud…

O Lurie Garden fica logo depois do The Bean e da Concha Acústica do Millennium Park, entre eles e o Art Institute. Tem de ficar atento pra ver a entradinha pra ele, que parece um labirinto. E lá estavam flores de todos os tipos, insetos e gente, tudo isso aliado a um clima gostoso nem frio e nem calor demais. 

Vista que se tem do Lurie Garden quando se está no Art Institute.&nbsp;

Vista que se tem do Lurie Garden quando se está no Art Institute. 

Alá a ausência de borda no lago Michigan! Parece mar!!!&nbsp;

Alá a ausência de borda no lago Michigan! Parece mar!!! 

Este prédio, onde fica localizado o Skydeck, chama-se Willis Tower. É o prédio da antiga loja de departamentos Sears, lembra? Pena que as caixas do Skydeck ficam num lado com vista menos interessante que a da foto acima. Mas mesmo assim vale a sensa…

Este prédio, onde fica localizado o Skydeck, chama-se Willis Tower. É o prédio da antiga loja de departamentos Sears, lembra? Pena que as caixas do Skydeck ficam num lado com vista menos interessante que a da foto acima. Mas mesmo assim vale a sensação de estar flutuando sobre a cidade. 

Ficamos num hotel em South Loop e, por isso, acabamos nos concentrando mais naquela região, que é onde se localizam grande parte dos museus. O centro da cidade é conhecido como Chicago Loop, que é dividido de acordo com a linha do trem suspenso que passa por lá. Além do Art Institute of Chicago, fomos ao Museu de História Natural, ao Planetário, ao Museu de Ciência e Indústria (esse bem distante do centro, bem mais ao sul da cidade. É preciso ir de carro ou fazer uma combinação de metrô e ônibus, que não fizemos por pura falta de tempo) e ao Museu de Fotografia Contemporânea. E no primeiro dia, fomos comemorar nosso aniversário de casamento no The Aviary e no Nextcomo já contei nos respectivos posts.

Dois dos prédios mais famosos da cidade. Detalhe da garagem incrível na base deles! O nome do arquiteto é Bertrand Goldberg.

Dois dos prédios mais famosos da cidade. Detalhe da garagem incrível na base deles! O nome do arquiteto é Bertrand Goldberg.

Fizemos o passeio de barco para ver os prédios - projetados por arquitetos famosos - que margeiam o rio, mas não o especializado em Arquitetura, que só depois descobrimos que existia (droga, teremos de voltar...). O passeio que fizemos foi bastante legal, 90 minutos de muita informação sobre os prédios e a história da cidade (como o grande incêndio que a consumiu em 1871 e as especulações sobre o seu início). Você pode ainda tomar uns bons drinks enquanto observa os prédios bem de perto. É quase como deve ser passear de maca por NYC, como bem definiu o saudoso Tom Jobim. Vale demais. Também passeamos pela orla do Lago Michigan que é tão gigantesco que você jura que é mar e tão te zoando falando que é lago. Sério, não dá pra ver nada além de água no horizonte. 

O motivo de viagem era também o Blues. Chicago foi o destino da maioria dos músicos oriundos do Delta do Mississippi (região no interior do estado de mesmo nome, onde nasceram e iniciaram suas carreiras, ainda como trabalhadores em fazendas de algodão). Robert Johnson, o bluesman  cuja fama de ter vendido a alma ao diabo para ter o dom de tocar violão girou o mundo, gravou uma música em homenagem à cidade. E desde então ela tem sido cantada por inúmeros músicos pelo mundo, virando uma espécie de hino da cidade. Pela relativa proximidade do estado do Mississippi e pelo seu desenvolvimento à época, Chicago era o caminho natural daqueles que queriam viver de sua música, deixando a vida dura das Cotton Plantations para trás.

Fomos a duas casas especializadas no gênero. A Buddy Guy Legends, do guitarrista famoso de Blues de mesmo nome - e um dos poucos que ainda está vivo - e o Kingston Mines, o mais antigo clube de Blues da cidade. Ambas as casas são muito bacanas, mas eu achei a do Buddy Guy com ar mais autêntico, apesar de mais nova. Pelo menos porque lá foi promovida uma grande Jam Session com os artistas locais e muita gente que estava na platéia subiu ao palco em algum momento. Até um Reco-reco man autista que tocava pra caramba. Achei o lugar mais festivo e vibrante, embora tenha gostado bastante da banda de Mike Wheeler, a segunda que se apresentou na noite em que estivemos no Kingston Mines. De toda maneira, pra quem gosta do gênero, vale demais fazer um tour por estas casas. Existem várias outras, se você estiver com tempo na cidade e gostar do gênero, se jogue!

Buddy Guy e Jimmy Burns. Na noite que fomos à casa, era Jimmy Burns quem comandava a festa. Guy não deu as caras, parece que estava em turnê fora da cidade. 

Chicago faz parte da Trilha do Blues e tem seu marco fincado no parque do South Loop, perto das esculturas Ágora, que são muito legais de visitar e fotografar. Elas causaram um impacto tão incrível na cidade quando foram expostas que os moradores se mobilizaram para que elas ficassem permanentemente ali. E elas ficam no caminho do Museum Park District, onde se localizam o Museu de História Natural e o Planetário.  E é perfeitamente possível visitar tudo isso num dia. E é lá onde planejam construir um museu sobre o George Lucas e sua obra, ou seja: vamos ter de voltar um dia. ;)

Blues Trail Mark. Há uma trilha inteira marcada com placas como esta, espalhada por vários estados americanos. Fãs de Blues podem fazer uma viagem tomando-as como base. Visitamos algumas ao longo desta viagem. Muito legal!

Blues Trail Mark. Há uma trilha inteira marcada com placas como esta, espalhada por vários estados americanos. Fãs de Blues podem fazer uma viagem tomando-as como base. Visitamos algumas ao longo desta viagem. Muito legal!

Ágora. Incrível!

Ágora. Incrível!

A viagem foi tão incrível e cheia de coisas pra fazer que acabamos esquecendo de comer a pizza símbolo da cidade, a chamada Deep Dish Pizza. A gente até tentou comer uma nas últimas horas na cidade, mas fomos pegos por um jogo de futebol que congestionou a cidade inteira, bem no dia em que fomos visitar o museu mais distante do centro. Essa vai ter ficar pra próxima visita! 

[Belo Horizonte] Minha segunda casa no Brasil.

Esta cidade foi minha casa por intensos, difíceis e também divertidíssimos 5 anos. Foi a primeira vez em que me senti confortável numa cidade estranha. Talvez, pelo fato de eu ter frequentado o estado de Minas Gerais desde pequena e usar o "Uai" como gatilho para quase todo início de resposta a uma pergunta, essa identificação tenha sido tão fácil. Claro que durante a minha infância eu já havia passado por lá algumas vezes. Era o caminho natural que se fazia para ir de Brasília até Boa Esperança. Mas foram poucas as vezes em que passei mais de metade de um dia na cidade antes de me mudar.

Até ir morar lá, eu morria de inveja de gente que já tinha morado em várias casas e vivido em cidades diferentes. Achava um tédio ter nascido e vivido quase 20 anos no mesmo apartamento, da mesma quadra, da mesma asa sul, da mesma Brasília. Mesmo sabendo que isso tinha muitas vantagens, eu queria era ter vivido uma vida cheia de moradas diferentes. Mal sabia eu que meu desejo se tornaria uma realidade muito gritante e que minhas muitas casas estariam espalhadas pelo mundo um dia... Bom. Só em Belo Horizonte eu morei em 6 casas diferentes. Entre hotel, pensões e repúblicas, me vi dividindo a vida com gente que eu nunca tinha visto na vida, vindas das regiões mais diferentes do país, com as idades mais variadas e as profissões mais distintas possíveis. Dividi espaço com estudantes, nutricionistas, enfermeiras, frentista de posto de gasolina, profética, administradoras... Morei no Centro, no Carlos Prates, no Santa Teresa, no Santa Efigênia, no Grajaú e, por fim, no Alto Barroca.

Me enfiei em enrascadas das mais diversas: virei quase uma sem-teto por um fim de semana; fui resgatada por uma pessoa incrível; virei mascote de turma de pós-graduação; virei pivô de briga entre amigas que dividiam uma casa; vi duas colegas de quarto quase arrancarem os cabelos uma da outra porque uma delas supostamente havia roubado um cheque do talão da outra; vi bilhetinhos, colados em caixas de leite na geladeira, que fariam o bilhete da Phoebe para o sanduíche do Ross parecer brincadeira de criança. Depois, fui morar em lugares mais legais e estáveis, voltei a estudar, terminei o segundo grau que eu tinha largado, fiz um curso técnico, entrei na faculdade, trabalhei nas mais variadas empresas... E fiz amigos pra vida toda!

Recentemente estive no Brasil pra visitar minha família e fazer um check-up de rotina. As despesas com saúde aqui nos EUA são tão absurdas que a gente nem pensa duas vezes: dá pra pagar as passagens de ida e volta, as consultas e exames todos e ainda dar uma passeadinha que fica mais barato. Daí, aproveitei que iria a Boa Esperança e dei uma chegadinha a BH. Pelas minhas contas, tirando duas idas-relâmpago à cidade para dois casamentos, eu não voltava à cidade com calma havia 14 anos. Eu precisava resolver este problema. 

Tirei 4 dias e fui pra lá, me jogar na cidade e tentar me reconhecer nestes 14 anos de mudanças.  Ambas mudamos muito, a cidade e eu, mas tanta coisa permaneceu em seu lugar! Foi um momento bacana de redescoberta, onde pude rever alguns dos meus lugares favoritos da época e conhecer novas coisas. Aproveitei também pra rever gente muito querida com quem eu havia perdido contato. E ainda faltaram tantas outras pessoas pra ver que, no fim, acabou sendo pouco tempo. Ah! Tive a sorte de conhecer o filho do meu primo-irmão, que resolveu nascer mais cedo só pra conhecer a xará dele! Fui embora com a certeza de que ainda seria muito feliz se voltasse a morar em BH um dia. Uma cidade que apesar de todos os seus problemas nos recebe de braços abertos, nos fazendo sentir em casa. 

Fui super bem recebida por uma amiga querida que já conheço há 18 anos. Ela me levou pra casa dela, passeamos um bocado, rimos juntas, fizemos farra, tomamos cerveja, conversamos sobre as coisas da vida, sobre meditação e ela até me levou pra comer canjiquinha com costela de porco na casa da avó dela! Tão bom a gente perceber que tem gente na nossa vida com quem é tão fácil estar junto, né? A Letícia é assim... Foram realmente dias muito gostosos.

Como você pode imaginar, muitas das minhas andanças na cidade foram atrás de comida. Revi lugares que eu frequentei e conheci alguns outros excelentes, como o restaurante Trindade. Ainda tirei um dia inteiro para ir a Inhotim, mas sobre o instituto virá um novo post. Seguem as fotos:

A Praça da Liberdade é uma lugar incrível, onde vou sempre que posso pra passear. E agora está muito mais legal ir lá, porque os prédios que circundam a praça, antes secretarias do estado, foram transformados em Museus incríveis! Se você tirar um di…

A Praça da Liberdade é uma lugar incrível, onde vou sempre que posso pra passear. E agora está muito mais legal ir lá, porque os prédios que circundam a praça, antes secretarias do estado, foram transformados em Museus incríveis! Se você tirar um dia só pra passear por lá, vai voltar pra casa cheio de estórias pra contar. 

Para saber mais sobre Circuito Cultural Liberdade: http://circuitoculturalliberdade.com.br/plus/

Para saber mais sobre Circuito Cultural Liberdade: http://circuitoculturalliberdade.com.br/plus/

Visitei, junto com a Letícia, o muito mais que bacana Museu de Minas e Metais. Legal à beça, usa de recursos de interação com o expectador para explicar a composição das rochas e metais, a tabela periódica (foto) e muito mais. Eu classifico de imper…

Visitei, junto com a Letícia, o muito mais que bacana Museu de Minas e Metais. Legal à beça, usa de recursos de interação com o expectador para explicar a composição das rochas e metais, a tabela periódica (foto) e muito mais. Eu classifico de imperdível e divertidíssimo! http://www.mmgerdau.org.br

Já que estávamos pertinho, fomos ao Café Belas Artes para eu matar um pouco as minhas saudades. Perdi a conta de quantas vezes eu vim aqui para assistir a filmes de arte, que nunca chegariam às telas dos cinemas comerciais da cidade. Assisti uma eno…

Já que estávamos pertinho, fomos ao Café Belas Artes para eu matar um pouco as minhas saudades. Perdi a conta de quantas vezes eu vim aqui para assistir a filmes de arte, que nunca chegariam às telas dos cinemas comerciais da cidade. Assisti uma enorme quantidade de filmes excelentes nesse lugar. Era aqui que eu, invariavelmente, vinha para curar alguma dor existencial ou quando eu estava muito cheia de dúvidas sobre as coisas que aconteciam na minha vida. Aliás, a esquina das ruas da Bahia e Gonçalves Dias tem muita participação em momentos importantes da minha vida em BH. Acesse: http://www.belasartescine.com.br/cafe-belas-artes.php

Ainda no Circuito Cultural Liberdade, mas em outro dia, fui à exposição de Kandinsky no CCBB/BH e conheci, também, a filial do Café com Letras que abriram lá. O Lugar é cheio de placas deste tipo da foto, bem divertidas e representativas da gente tr…

Ainda no Circuito Cultural Liberdade, mas em outro dia, fui à exposição de Kandinsky no CCBB/BH e conheci, também, a filial do Café com Letras que abriram lá. O Lugar é cheio de placas deste tipo da foto, bem divertidas e representativas da gente trabalhadeira e simples que é a brasileira. Jantamos no Café e a comida estava bem boa. Fui também ao Café com letras original, da Savassi, para almoçar. E senti uma nostalgia incrível de quando a gente ia lá tomar uma café e assistir aos Saraus. http://www.cafecomletras.com.br

Eu tenho para mim que o dia em que eu for a Portugal eu vou sair rolando pelas ladeiras de lá. Eu simplesmente adoro doces feitos com ovos e quindim sempre foi uma perdição pra mim. Quando eu morava em BH, frequentei uma lanchonete do Barro Preto qu…

Eu tenho para mim que o dia em que eu for a Portugal eu vou sair rolando pelas ladeiras de lá. Eu simplesmente adoro doces feitos com ovos e quindim sempre foi uma perdição pra mim. Quando eu morava em BH, frequentei uma lanchonete do Barro Preto que tinha um maravilhoso. Ela fazia parte de uma rede de lojas que existe até hoje na cidade, mas a unidade do Barro Preto tinha o melhor quindim. Passei por uma loja deles na saída do Café com Letras e eles não tinham quindim. Saí de lá desiludida e fiquei passeando sem rumo pela Savassi, bairro onde eu também vivi muitas histórias. Até que eu tropecei na Doces de Portugal e entendi: Deus escreve mesmo certo por linhas tortas. Ele me mandou aqui só pra comer o melhor-quindim-da-vida-por-favor-um-suplemento-vitalício-dissaê! http://docesdeportugal.com.br

Outro lugar que eu não poderia deixar de ir era a Casa Bonomi. Essa padaria foi o meu primeiro contato com uma boutique de pão. Achei tão a minha cara que até fiz o projeto de formatura do curso técnico em administração inspirado nela. Era aqui que …

Outro lugar que eu não poderia deixar de ir era a Casa Bonomi. Essa padaria foi o meu primeiro contato com uma boutique de pão. Achei tão a minha cara que até fiz o projeto de formatura do curso técnico em administração inspirado nela. Era aqui que eu parava quando descia a Afonso Penna todinha, indo do Telemar até o Palácio das Artes que ficava perto de onde eu estudava. Entrava, sentia os cheiros, namorava os produtos e saía sempre com o mesmo pão. Uma focaccia de ervas, que não existe mais por lá. Desta vez em sentei na mesona comunitária deles e pedi uma Eclair de chocolate, um caneleé, expresso e um suco deliciosos. Nessas horas eu fico pensando nas voltas que o mundo dá e fiquei olhando pra porta me imaginando aos 22 anos e entrando pela porta. É tão legal que hajam lugares que duram em BH!

site: http://www.casabonomi.com.br

A Cum Panio me foi indicada pela amiga de um grande amigo. Ela me recomendou tanto que eu não pude deixar de pesquisar a respeito. Acabei ficando interessada e indo lá. Pra quê? Morri mil vezes, especialmente porque a casa não aceitava cartão de cré…

A Cum Panio me foi indicada pela amiga de um grande amigo. Ela me recomendou tanto que eu não pude deixar de pesquisar a respeito. Acabei ficando interessada e indo lá. Pra quê? Morri mil vezes, especialmente porque a casa não aceitava cartão de crédito e eu só tinha 30 reais na carteira. Pra quem teria comprado um pão de cada sabor e formato só pra experimentar, acabei comprando 3 tipos e indo pra casa chateada. Eles tinha de ver isso aí! 

A casa é bem pequena, não haviam mesas para comer por lá. Uma padaria mesmo. Os pães um mais lindo que o outro e o cheio de matar de vontade de comer tudo. Adorei a dica! 

Fonte: site da Cum Panio http://cumpanio.co

[Saint Petersburg] A surpreendente cidade da Flórida que possui um Museu de Salvador Dalí

Desde que chegamos à Miami, tenho pesquisado lugares ao redor da cidade pra podermos aproveitar os feriados. E eu não me lembro muito bem como aconteceu isso, mas descobri que Saint Petersburg, uma cidade a 4 horas daqui, com 250 mil habitantes e localizada na costa oeste do estado, possuía um museu dedicado à Salvador Dalí, o mais completo acervo do artista fora da Europa. Somente agora, quase 3 anos depois, conseguimos realizar minha vontade de conhecer o tal museu. Só que ele foi o responsável por apresentar-nos uma cidade encantadora. Além do museu, a cidade conta com um centro cultural de primeira linha (tinha até show da Alanis Morrisete programado), vários outros museus e galerias de arte, além um calendário de eventos bastante movimentado, o que faz a sua visita muito mais rica. Acabou faltando mais tempo pra conhecer mais e mesmo tendo nos concentrado em Downtown, deixamos de ver muita coisa.

Foram 2 dias intensos, cheios de coisas interessantes pra gente fazer. Assim que chegamos já tivemos uma provinha do que seria a nossa visita. Nos hospedamos num hotel pequeno, familiar, onde os donos te atendem na recepção com um sorriso no rosto e um papo pra lá de animador. Nos deram dicas, perguntaram o que tínhamos programado, deram pitaco... Pra ser um hotel imperdível, só faltou um café da manhã decente. Mas querer isso nos EUA é um tanto quanto difícil. 

Começamos visitando o Saturday's Farmers Market, onde é possível encontrar "de um tudo", inclusive muita coisa boa pra comer. Devíamos ter deixado pra tomar o café da manhã por lá.

Uma barraca só de massas secas...&nbsp;

Uma barraca só de massas secas... 

...&nbsp;com cores e sabores mais diferentes que você já viu.&nbsp;

... com cores e sabores mais diferentes que você já viu. 

Picolés de frutas pedaçudas e fresquinhas, pro calor que tava fazendo lá. Esse daí era de morango, banana e abacaxi.

Picolés de frutas pedaçudas e fresquinhas, pro calor que tava fazendo lá. Esse daí era de morango, banana e abacaxi.

Na barraca de hortaliças e verduras também tinham flores, como estes lindos girassóis.

Na barraca de hortaliças e verduras também tinham flores, como estes lindos girassóis.

Estes brócolis estavam tão lindos que me deu vontade de levar, mas como estávamos indo ao museu depois deixei pra lá.&nbsp;

Estes brócolis estavam tão lindos que me deu vontade de levar, mas como estávamos indo ao museu depois deixei pra lá. 

Brincadeira com bolhas de sabão gigantes.

Brincadeira com bolhas de sabão gigantes.

Até aparecer um menino chato que insistia em estourar todas as bolhas, quem brincava tentava mantê-las o máximo de tempo possível flutuando. Bacana demais!

Até aparecer um menino chato que insistia em estourar todas as bolhas, quem brincava tentava mantê-las o máximo de tempo possível flutuando. Bacana demais!

O mercado fica bem pertinho do museu, dá pra ir à pé. Escolhemos andar margeando uma pista que tinha sido, recentemente, usada numa corrida de carros - ainda com guard-rails e tudo o mais. A calçada é utilizada pelos moradores para a prática de esportes e cruzamos com vários deles fazendo seus exercícios enquanto caminhávamos. Como estava tudo gradeado à nossa esquerda, foi um tanto estranho andar por um corredor daqueles e meu marido ficava o tempo todo me perguntando se estávamos indo no caminho certo (Bruno costuma ficar nervoso com as minhas opções por caminhar nas cidades. Em Nova Orleans ele quase teve um ataque. Em outro post eu conto.). Mas logo percebemos que chegar por lá foi a melhor coisa, porque de repente surge o primeiro prédio do complexo cultural deles, o Mahaffey Teather. E logo depois, o prédio do The Dali Museum

O Museu. Todo pimpão esperando a gente.

O Museu. Todo pimpão esperando a gente.

O acervo deles não é grande, mas é significativo. Possui obras acadêmicas, passando por algumas representantes do Surrealismo que consagrou Salvador Dalí, até chegar à etapa mais religiosa do artista plástico e a influência dos 8 anos em que morou nos EUA. Porém não se engane. Pequeno acervo não significa que dá pra fazer uma visitinha rápida. Não pra mim. Eu preciso me descolar de quem estiver comigo e curtir o momento sozinha, pra descobrir as coisas que mais me chamam a atenção. Como a representação do pai de Salvador Dalí em várias de suas obras, levando-o pela mão pra conhecer o mundo. Ou, que o artista pintava quadros minúsculos e quadros monumentais. 

Um dos destaques do museu é uma tela onde Dalí, iconoclasta como só ele, quis provar à Scientific American Magazine que um dado divulgado em uma matéria estava errado: a de que só seria possível reconhecer um rosto humano com representações com mais de 150 pixels. Gala Contemplating the Mediterranean Sea  é uma obra monumental, que vale a visita ao museu. Daqueles trabalhos que você precisa ver de perto e de longe, voltar pra perto e afastar-se novamente. 

Depois da visita, decidimos almoçar. Há uma avenida que margeia um parque à beira do mar, onde há inúmeros bares, cafés e restaurantes para todos os gostos, bem como lojas com os mais variados artigos. É a Beach Drive NE, pra onde é possível ir caminhando do museu. Comemos em um restaurante bastante festejado no dia em que chegamos, mas eu sinceramente não achei nada demais. Estivemos em outros pontos que também não foram nenhuma surpresa. O único lugar que é bacana, mas nada do outro mundo, é a Confeitaria do Restaurante Cassis Brasserie. Eu comi uma Eclair de Chocolate bastante correta e meu marido e casal de amigos foram de sorvete. O de maracujá estava muito bom!

Como nosso hotel oferecia happy-hour a partir das 17h00 como cortesia aos hóspedes, fomos até lá pra descansar um pouco e aproveitar pra conhecer algumas pessoas. O sol estava muito forte. Durante a conversa o proprietário nos mencionou um mercado ali próximo que era muito bacana. Como eu falei que era formada em Gastronomia ela se empolgou e disse que eu precisaria ir até lá. Assim que o sol se pôs, fomos eu e meus amigos (Bruno teve princípio de insolação e ficou no quarto) até o Locale Market. E daí, morri de amores! 

A entrada do lugar.

A entrada do lugar.

Esses disquinhos voadores amarelos e verdes são abobrinhas, que exalavam perfume de dama-da-noite.

Esses disquinhos voadores amarelos e verdes são abobrinhas, que exalavam perfume de dama-da-noite.

Heirloom Tomatoes que eu adoro!

Heirloom Tomatoes que eu adoro!

Há várias opções de take-out ou mesmo pra comer na casa, numa das mesas internas ou externas (que ficam no segundo andar).

Há várias opções de take-out ou mesmo pra comer na casa, numa das mesas internas ou externas (que ficam no segundo andar).

O balcão refrigerado de peixes.

O balcão refrigerado de peixes.

As carnes, com várias opções de cortes de Dry Aged Steaks.

As carnes, com várias opções de cortes de Dry Aged Steaks.

Algumas opções de proteínas curadas ou cozidas. Destaque para o Confit de Canard bem ali no meio.&nbsp;

Algumas opções de proteínas curadas ou cozidas. Destaque para o Confit de Canard bem ali no meio. 

Mais carne!

Mais carne!

A loja de queijos. Há, espalhados pelo mercado, vários quiosques/lojas especializados.&nbsp;

A loja de queijos. Há, espalhados pelo mercado, vários quiosques/lojas especializados. 

Como era Páscoa, uma escultura de Ovo de chocolate na Confeitaria.

Como era Páscoa, uma escultura de Ovo de chocolate na Confeitaria.

As mesas do pátio térreo externo. Ainda tem mais mesas no segundo piso, onde há uma adega bastante variada, com mesas coletivas pra reunir os amigos, apreciar um bom vinho e petiscar alguma coisa. Eu aproveitei e comi uma pizza e abrimos um vinho qu…

As mesas do pátio térreo externo. Ainda tem mais mesas no segundo piso, onde há uma adega bastante variada, com mesas coletivas pra reunir os amigos, apreciar um bom vinho e petiscar alguma coisa. Eu aproveitei e comi uma pizza e abrimos um vinho que minha amiga comprou. Eles cobram 15 dólares a rolha (quando você compra o vinho originalmente pra levar pra casa, e decide beber lá mesmo, na loja.

O Locale me pareceu inspirado no conceito do Eataly de Nova Iorque. O que eu sei é que nem Miami tem algo com o tamanho e a seriedade deste lugar. Fiquei com inveja dos moradores de St. Pete e com muita vontade de voltar. Quem sabe quando minha mãe vier me visitar?