Quando decidimos encontrar meus pais na Itália, automaticamente eu pensei em Modena. A região onde a cidade se encontra me chama a atenção por conta da produção de queijos, presuntos crus e aceto balsâmico. Mas eu também nutro um sonho de comer na Osteria Francescana do chef Massimo Bottura.
Como eu só penso em comer quando programo uma viagem e, ainda de quebra, gosto de ir a lugares diferentes dos que as pessoas normalmente vão, decidi que seria muito bom começarmos nossa incursão italiana por Bologna. A cidade ainda não entrou no roteiro turístico para estrangeiros e funciona como base para ir a outras pequenas cidades como Modena, Parma, Ímola... Pra quem tem muito tempo dá pra fazer uma senhora viagem só por estes locais, que são cidades produtoras de alguns dos mais festejados ingredientes italianos, além de ser onde ficam as fábricas da Ferrari, Lamborguini e Ducatti. As opções são muitas e é difícil definir o que vai ser o objeto da sua viagem. Tudo vai depender da velocidade que você gosta que ela tenha, da quantidade de pessoas que estão no seu grupo e, claro, do tamanho do seu orçamento.
Um resumo da produção da Emilia Romana.
Chegamos à Bologna num domingo no início da tarde. Já no aeroporto gastei quase todo o italiano que aprendi previamente. Precisávamos comprar bilhetes para o Autobus, ônibus que faz o trajeto entre o aeroporto e o Centro Histórico. Por algum motivo que já não me lembro mais, não conseguimos comprar os bilhetes com cartão de crédito e tínhamos exatamente 11 Euros na carteira (a passagem pra duas pessoas ficava em 12 euros). Só tínhamos notas de 100, o que complicou um pouco as coisas. Fica a dica de levar notas menores. No fim, tive de ir a uma livraria que há no aeroporto pra poder trocar uma das notas grandes. Acabei comprando um livro muito bom, o Cucina Slow - 500 Ricette della Tradizzione Italiana, da Editora do movimento Slow Food, por 29 Euros. Se era do Slow Food, era garantia de que as receitas seriam bem garimpadas.
Chegar ao hotel usando o autobus foi muito tranquilo. Baixamos, previamente, o mapa da cidade no Google Maps - para usá-lo offline até termos condições de comprar um chip de celular. Foi uma forma econômica e local de chegar ao nosso destino. Hotel localizado, check-in feito, fomos passear.
Uma das ruas do labirinto que é a cidade de Bologna. Lugar perfeito pra deixar-se perder e encontrar lugares super-inusitados.
A cidade é cheia de pórticos. Isso faz com que você possa passear sem maiores problemas, inclusive, em dias de chuva.
A cada esquina, uma ruazinha te convida a desvendar um novo mundo. Ah, o que eu não faria com um mês pra percorrer esta cidade...
Bologna é uma cidade universitária. Umberto Eco lecionava na universidade daqui. No meio de um passeio sem rumo, topei com formandos celebrando a conquista com família e amigos.
Vários prédios medievais espalhados por todos os lados e uma atmosfera que mistura o novo com o antigo fez de Bologna uma das minhas preferidas da viagem toda.
Com a fome batendo usei meu foursquare pra ver os restaurantes mais recomendados por perto. E chegamos, depois de uma caminhada bastante pitoresca, à porta da Osteria Dell'Orsa. Lotado, com ares de boteco de fim de noite, daqueles que serve pratos de comida sem frescura, tivemos de esperar por uns 20 minutos até conseguir uma mesa. Como ainda éramos somente eu e meu marido (chegamos 2 dias antes do resto do grupo), pudemos nos dar ao luxo de escolher restaurantes aleatoriamente. Valeu a pena! É um restaurante que serve comida honesta. O Tagliatelle al Ragu deles custava 6 euros e foi o melhor que comi na viagem. As porções de salada e de principais são bem servidas e dá tranquilamente para duas pessoas dividirem. Já a massa é uma porção individual mesmo. Pedimos o vinho da casa e fomos bastante felizes nesta primeira refeição. Inclusive porque pude provar pela primeira vez a Zuppa Inglese, uma sobremesa que havia uns bons 3 anos que estava na minha lista de coisas a serem provadas. Que delícia!!!
Ao que parece, o restaurante está sempre assim: lotado. Isso significa comida boa, né?
No dia seguinte eu fui aprender a fazer Torteloni, uma massa recheada de ricota com parmiggiano e ervas frescas, típica de Bologna. Encontrei, depois de muito pesquisar, a Maribel Angullo do Taste of Italy. Maribel é uma professora excelente, com um inglês muito fácil de compreender. Ela nos mostrou todas as técnicas de fazer massa fresca, técnicas que eu achava que já sabia por conta da faculdade e descobri que não. O valor da aula é meio salgado, especialmente com a cotação do Real/Euro. Porém, contando os pratos, os petiscos, a visita aos mercados, as dicas da cidade, a comida que você aprende a fazer (contando todas as dicas de preparo que mudaram a minha vida) e que come junto com outros alunos, além da garrafa de vinho, fazem perceber que é um dinheiro bastante bem investido. Essa experiência foi tão boa que decidi fazer aula de cozinha todas as vezes que eu viajar pra um país diferente. Porque você tem uma outra dimensão da cultura do país quando aprende a culinária deles. Recomendo demais!
Maribel preparando-se para iniciar a aula. Antes disso, fomos ao mercado para comprar os ingredientes das receitas: Tortelloni, Tagliatelli al ragu e, ao meu pedido, Flores de abobrinha recheadas. Ela oferece só a aula (manhã ou tarde) ou a aula + a visita ao mercado, que foi o que eu fiz.
Depois disso, minha família chegou e exploramos a cidade sem pressa. Na primeira noite fomos a uma Taverna super antiga da cidade (de 1465), a Osteria del Sole, onde é preciso levar o que você vai comer porque eles só servem bebidas alcoólicas (menos vinhos e mais espumantes). Foi uma experiência bastante singular ver como os italianos celebram suas conquistas ou mesmo reúnem-se entre amigos pra bater papo. Me lembrou um pouco as farras nos bares do Mercado Central de Belo Horizonte, onde todo mundo se espreme em pé, nos balcões dos bares, pra tomar cerveja "mofada"(com aquela capinha de gelo por fora da garrafa) e comer fígado acebolado, acompanhado de porções de jiló. Chegamos no horário certinho e tinham uns italianos sentados na nossa mesa. Assim que eles nos viram, começaram a rir e brincaram: "Porra, precisavam ser tão pontuais assim?". O lugar estava cheio e eles torciam para que os donos da mesa perdessem a reserva. Não foi desta vez! ;)
Comemos bem, nos hospedamos num apartamento simpático pelo AirBnb e bebemos muito vinho. No segundo dia de viagem em grupo, fomos visitar as produções de Parmiggiano Reggiano, Aceto Balsâmico e Presunto Cru de Modena. Mas sobre eles, escreverei posts separados.