Em julho último Bruno e eu fizemos uma viagem complementar àquela de barco no rio Mississippi. Por conta do cancelamento de nossa ida à Clarksdale naquela época, a viagem não estava completa. Encontramos um jeito de sanar isso fazendo o caminho inverso do percurso, só que desta vez por terra e incluindo Chicago. Queríamos voltar a Memphis e a Nova Orleans, além de passear um pouco pelo interior do estado do Mississippi, daí este roteiro pareceu mais do que propício.
Uma das esculturas mais famosas da cidade, The Bean, no Millenium Park.
A cidade já foi cenário de vários filmes que hoje são considerados cult, como 'Curtindo a Vida Adoidado' e 'Os Irmãos Cara de Pau'. Com estes filmes em mente, deu pra reconhecer a cidade em alguns pontos e sentir certa familiaridade. Mas eu confesso que minha primeira impressão de Chicago foi algo como um desapontamento. Eu a tinha como algo próximo a Nova Iorque e encontrei uma cidade com a estrutura parecida com a da maioria das outras grandes cidades americanas, com um centro de arranha-céus e um grande parque, com o restante da cidade bem espalhado. Mas a decepção se transformou em encantamento rapidinho, porque há tantas coisas pra ver e fazer na cidade que você fica até sem saber por onde começar. Daí, aproveitamos para turistar um pouco, coisa que Bruno não costuma fazer em viagens. A reviravolta aconteceu assim que visitamos o incrível Instituto de Artes da cidade. Ele deu uma de Cameron e quis fazer tudo diferente depois de ver o quadro de Georges Seurat de perto. A maioria das obras mostradas no filme fazem parte do acervo permanente do Museu, então pudemos vê-los todos pessoalmente. Detalhe irritante dos vários chineses, com câmeras super potentes, tirando a mesma foto 5 vezes do mesmo quadro. Como eu tenho preguiça de gente tirando fotografia em museus e atrapalhando os outros de curtirem as obras...
Bruno quis visitar todos os museus ao mesmo tempo agora. E eu tive de dosar isso pra ele não enlouquecer e esquecermos que havia uma cidade lá fora querendo ser descoberta também. O tour pelos museus foi bastante legal, especialmente os que se localizam no centro da cidade, com destaque pra melhor vista do Skyline de Chicago, no Planetarium. Eu gosto muito de fazer estes passeios, mas também gosto muito de bater perna na rua e descobrir coisas ao acaso. Daí minha intenção de controlar um pouco os impulsos museólogos dele. Acho que consegui.
A vista que se tem da cidade, quando se está no café do Adler Planetarium.
O Lurie Garden fica logo depois do The Bean e da Concha Acústica do Millennium Park, entre eles e o Art Institute. Tem de ficar atento pra ver a entradinha pra ele, que parece um labirinto. E lá estavam flores de todos os tipos, insetos e gente, tudo isso aliado a um clima gostoso nem frio e nem calor demais.
Vista que se tem do Lurie Garden quando se está no Art Institute.
Alá a ausência de borda no lago Michigan! Parece mar!!!
Este prédio, onde fica localizado o Skydeck, chama-se Willis Tower. É o prédio da antiga loja de departamentos Sears, lembra? Pena que as caixas do Skydeck ficam num lado com vista menos interessante que a da foto acima. Mas mesmo assim vale a sensação de estar flutuando sobre a cidade.
Ficamos num hotel em South Loop e, por isso, acabamos nos concentrando mais naquela região, que é onde se localizam grande parte dos museus. O centro da cidade é conhecido como Chicago Loop, que é dividido de acordo com a linha do trem suspenso que passa por lá. Além do Art Institute of Chicago, fomos ao Museu de História Natural, ao Planetário, ao Museu de Ciência e Indústria (esse bem distante do centro, bem mais ao sul da cidade. É preciso ir de carro ou fazer uma combinação de metrô e ônibus, que não fizemos por pura falta de tempo) e ao Museu de Fotografia Contemporânea. E no primeiro dia, fomos comemorar nosso aniversário de casamento no The Aviary e no Next, como já contei nos respectivos posts.
Dois dos prédios mais famosos da cidade. Detalhe da garagem incrível na base deles! O nome do arquiteto é Bertrand Goldberg.
Fizemos o passeio de barco para ver os prédios - projetados por arquitetos famosos - que margeiam o rio, mas não o especializado em Arquitetura, que só depois descobrimos que existia (droga, teremos de voltar...). O passeio que fizemos foi bastante legal, 90 minutos de muita informação sobre os prédios e a história da cidade (como o grande incêndio que a consumiu em 1871 e as especulações sobre o seu início). Você pode ainda tomar uns bons drinks enquanto observa os prédios bem de perto. É quase como deve ser passear de maca por NYC, como bem definiu o saudoso Tom Jobim. Vale demais. Também passeamos pela orla do Lago Michigan que é tão gigantesco que você jura que é mar e tão te zoando falando que é lago. Sério, não dá pra ver nada além de água no horizonte.
O motivo de viagem era também o Blues. Chicago foi o destino da maioria dos músicos oriundos do Delta do Mississippi (região no interior do estado de mesmo nome, onde nasceram e iniciaram suas carreiras, ainda como trabalhadores em fazendas de algodão). Robert Johnson, o bluesman cuja fama de ter vendido a alma ao diabo para ter o dom de tocar violão girou o mundo, gravou uma música em homenagem à cidade. E desde então ela tem sido cantada por inúmeros músicos pelo mundo, virando uma espécie de hino da cidade. Pela relativa proximidade do estado do Mississippi e pelo seu desenvolvimento à época, Chicago era o caminho natural daqueles que queriam viver de sua música, deixando a vida dura das Cotton Plantations para trás.
Fomos a duas casas especializadas no gênero. A Buddy Guy Legends, do guitarrista famoso de Blues de mesmo nome - e um dos poucos que ainda está vivo - e o Kingston Mines, o mais antigo clube de Blues da cidade. Ambas as casas são muito bacanas, mas eu achei a do Buddy Guy com ar mais autêntico, apesar de mais nova. Pelo menos porque lá foi promovida uma grande Jam Session com os artistas locais e muita gente que estava na platéia subiu ao palco em algum momento. Até um Reco-reco man autista que tocava pra caramba. Achei o lugar mais festivo e vibrante, embora tenha gostado bastante da banda de Mike Wheeler, a segunda que se apresentou na noite em que estivemos no Kingston Mines. De toda maneira, pra quem gosta do gênero, vale demais fazer um tour por estas casas. Existem várias outras, se você estiver com tempo na cidade e gostar do gênero, se jogue!
Buddy Guy e Jimmy Burns. Na noite que fomos à casa, era Jimmy Burns quem comandava a festa. Guy não deu as caras, parece que estava em turnê fora da cidade.
Chicago faz parte da Trilha do Blues e tem seu marco fincado no parque do South Loop, perto das esculturas Ágora, que são muito legais de visitar e fotografar. Elas causaram um impacto tão incrível na cidade quando foram expostas que os moradores se mobilizaram para que elas ficassem permanentemente ali. E elas ficam no caminho do Museum Park District, onde se localizam o Museu de História Natural e o Planetário. E é perfeitamente possível visitar tudo isso num dia. E é lá onde planejam construir um museu sobre o George Lucas e sua obra, ou seja: vamos ter de voltar um dia. ;)
Blues Trail Mark. Há uma trilha inteira marcada com placas como esta, espalhada por vários estados americanos. Fãs de Blues podem fazer uma viagem tomando-as como base. Visitamos algumas ao longo desta viagem. Muito legal!
Ágora. Incrível!
A viagem foi tão incrível e cheia de coisas pra fazer que acabamos esquecendo de comer a pizza símbolo da cidade, a chamada Deep Dish Pizza. A gente até tentou comer uma nas últimas horas na cidade, mas fomos pegos por um jogo de futebol que congestionou a cidade inteira, bem no dia em que fomos visitar o museu mais distante do centro. Essa vai ter ficar pra próxima visita!