Esta cidade foi minha casa por intensos, difíceis e também divertidíssimos 5 anos. Foi a primeira vez em que me senti confortável numa cidade estranha. Talvez, pelo fato de eu ter frequentado o estado de Minas Gerais desde pequena e usar o "Uai" como gatilho para quase todo início de resposta a uma pergunta, essa identificação tenha sido tão fácil. Claro que durante a minha infância eu já havia passado por lá algumas vezes. Era o caminho natural que se fazia para ir de Brasília até Boa Esperança. Mas foram poucas as vezes em que passei mais de metade de um dia na cidade antes de me mudar.
Até ir morar lá, eu morria de inveja de gente que já tinha morado em várias casas e vivido em cidades diferentes. Achava um tédio ter nascido e vivido quase 20 anos no mesmo apartamento, da mesma quadra, da mesma asa sul, da mesma Brasília. Mesmo sabendo que isso tinha muitas vantagens, eu queria era ter vivido uma vida cheia de moradas diferentes. Mal sabia eu que meu desejo se tornaria uma realidade muito gritante e que minhas muitas casas estariam espalhadas pelo mundo um dia... Bom. Só em Belo Horizonte eu morei em 6 casas diferentes. Entre hotel, pensões e repúblicas, me vi dividindo a vida com gente que eu nunca tinha visto na vida, vindas das regiões mais diferentes do país, com as idades mais variadas e as profissões mais distintas possíveis. Dividi espaço com estudantes, nutricionistas, enfermeiras, frentista de posto de gasolina, profética, administradoras... Morei no Centro, no Carlos Prates, no Santa Teresa, no Santa Efigênia, no Grajaú e, por fim, no Alto Barroca.
Me enfiei em enrascadas das mais diversas: virei quase uma sem-teto por um fim de semana; fui resgatada por uma pessoa incrível; virei mascote de turma de pós-graduação; virei pivô de briga entre amigas que dividiam uma casa; vi duas colegas de quarto quase arrancarem os cabelos uma da outra porque uma delas supostamente havia roubado um cheque do talão da outra; vi bilhetinhos, colados em caixas de leite na geladeira, que fariam o bilhete da Phoebe para o sanduíche do Ross parecer brincadeira de criança. Depois, fui morar em lugares mais legais e estáveis, voltei a estudar, terminei o segundo grau que eu tinha largado, fiz um curso técnico, entrei na faculdade, trabalhei nas mais variadas empresas... E fiz amigos pra vida toda!
Recentemente estive no Brasil pra visitar minha família e fazer um check-up de rotina. As despesas com saúde aqui nos EUA são tão absurdas que a gente nem pensa duas vezes: dá pra pagar as passagens de ida e volta, as consultas e exames todos e ainda dar uma passeadinha que fica mais barato. Daí, aproveitei que iria a Boa Esperança e dei uma chegadinha a BH. Pelas minhas contas, tirando duas idas-relâmpago à cidade para dois casamentos, eu não voltava à cidade com calma havia 14 anos. Eu precisava resolver este problema.
Tirei 4 dias e fui pra lá, me jogar na cidade e tentar me reconhecer nestes 14 anos de mudanças. Ambas mudamos muito, a cidade e eu, mas tanta coisa permaneceu em seu lugar! Foi um momento bacana de redescoberta, onde pude rever alguns dos meus lugares favoritos da época e conhecer novas coisas. Aproveitei também pra rever gente muito querida com quem eu havia perdido contato. E ainda faltaram tantas outras pessoas pra ver que, no fim, acabou sendo pouco tempo. Ah! Tive a sorte de conhecer o filho do meu primo-irmão, que resolveu nascer mais cedo só pra conhecer a xará dele! Fui embora com a certeza de que ainda seria muito feliz se voltasse a morar em BH um dia. Uma cidade que apesar de todos os seus problemas nos recebe de braços abertos, nos fazendo sentir em casa.
Fui super bem recebida por uma amiga querida que já conheço há 18 anos. Ela me levou pra casa dela, passeamos um bocado, rimos juntas, fizemos farra, tomamos cerveja, conversamos sobre as coisas da vida, sobre meditação e ela até me levou pra comer canjiquinha com costela de porco na casa da avó dela! Tão bom a gente perceber que tem gente na nossa vida com quem é tão fácil estar junto, né? A Letícia é assim... Foram realmente dias muito gostosos.
Como você pode imaginar, muitas das minhas andanças na cidade foram atrás de comida. Revi lugares que eu frequentei e conheci alguns outros excelentes, como o restaurante Trindade. Ainda tirei um dia inteiro para ir a Inhotim, mas sobre o instituto virá um novo post. Seguem as fotos: