Na última semana de julho de 2011, fui a Buenos Aires para fazer um curso de Cozinha Argentina no IAG. Foi a minha primeira vez na cidade e a primeira em que viajei sozinha ao exterior. Cheguei à cidade junto com um tornado, que fez o tempo mudar absurdamente rápido e cair uma chuva de granizos gigantes enquanto eu era transportada de carro pela Autopista. No primeiro dia tive alguns contratempos: restaurantes que só aceitavam dinheiro (eu costumo andar com cartão de crédito e quase nada de dinheiro na bolsa); o padrão das tomadas argentinas que me impedia de recarregar meu celular; os raros caixas eletrônicos da cidade que me permitiam sacar dinheiro... O fato foi que eu cheguei a Buenos Aires meio de mau-humor com a cidade e ela comigo.
Com a intenção de resolver meu problema mais urgente (recarregar a bateria do meu celular), escolhi uma rua na cidade - como sempre faço quando estou num lugar desconhecido - e me joguei. Andei sem destino até encontrar a tal da Calle Florida. Entrei nesta rua e andei mais um pouco até que vi um ponto daqueles ônibus de City-tour da cidade. Eram mais ou menos umas oito horas da manhã e eu tinha apenas 2 dias para girar livremente pela cidade antes do curso. Resolvi embarcar. Na certa eu veria pelo caminho uma loja revendedora da Apple pra comprar o tal do adaptador e, de quebra, conheceria um pouco a cidade. Teto do ônibus, 13 graus lá fora, nariz congelando, eu tremendo e batendo o queixo, lá fui eu: San Telmo, La Boca, La Bombonera, Caminito... Foi aí que, numa esquina, chamou-me a atenção a fachada vermelha e bem pintada de um restaurante, cujas janelas e porta tinham grades de proteção. Sem indícios de que algo já funcionava por ali, fiquei com esta imagem na cabeça. Mais tarde, de volta ao hotel e com adaptador de tomadas providenciado, resolvi ver os meus guias sobre aquele restaurante misterioso: "Imperdível", diziam todos. Opa!
No dia seguinte, lá fui eu de novo! Desta vez, para descer nos lugares que desejava conhecer. Ao chegar no Caminito, por volta das 14 horas, resolvi ver se o tal Patagonia Sur estava aberto. As grades de proteção tinham sido removidas. Tinha uma campainha na porta de vidro, fechada. Toquei. Nada! Toquei pela segunda vez e surgiu uma mulher jovem, que ao abrir a porta olhou desconfiada para os dois lados e me perguntou se eu desejava almoçar. Resposta afirmativa, fui guiada pelo salão estreito do lugar, que só tinha uma mesa ocupada de 8 lugares. Sentei-me, sentindo que havia adentrado uma sociedade secreta, era uma intrusa num lugar desconhecido. A sensação me encantou. Trouxeram-me água, o cardápio, e me veio o susto: 510 pesos argentinos por couvert, entrada, prato principal, sobremesa e água! Titubeei um pouco, fiquei em dúvida se permaneceria lá. Foi aí que os pratos principais da mesa ao lado chegaram e eu fui arrebatada pelos seus aromas, tal qual o Mickey pelo cheiro do bolo de queijo feito pela Minnie, naquele longínquo desenho da minha infância. O ambiente do restaurante e aqueles aromas me fizeram decidir: eu comeria ali nem que precisasse viver de churros até a minha volta ao Brasil. E aí, Buenos Aires me arrebatou pelo estômago!
Escolhi minhas etapas do almoço e esperei. De resto, só me restam as fotografias abaixo:
Descobri que Francis Mallman é idolatrado como chef na Argentina, talvez do mesmo modo como Alex Atala o é no Brasil. Possui formação clássica francesa, mas em dado momento de sua vida decidiu que só seria feliz como cozinheiro em sua terra natal, executando pratos da cozinha argentina e desenvolvendo ou apurando técnicas para fazer um bom assado. E foi daí que veio a sua fama! Hoje, ele possui, além de dois restaurantes no Uruguai, um em Buenos Aires e um outro em Mendoza que sou louca para conhecer. Abaixo, o próprio cozinhando ao ar livre, uma das suas marcas.