[Série Amigos] Antipasto de Berinjela

Durante um tempo da minha juventude eu trabalhei como vendedora em lojas de shopping. Foram quase 4 anos no comércio, onde aprendi bastante. Inclusive que a vida não era tão cor de rosa como eu supunha e que existia muita gente a fim de puxar o seu tapete.

Foi trabalhando no comércio eu comecei a fumar. Sempre detestei cheiro de cigarro, mas logo percebi que os fumantes tinham uma vantagem naquele mundo que eu não tinha: podiam fazer uns intervalos da loucura da loja, ir pro corredor e acender um cigarro, conversar, falar das pessoas que passavam e rir. Passei a gostar do mise en scene do ato de fumar, a reunião que ele provocava, a formação de vínculos afetivos que ele proporcionava. Nem tudo tem só um lado ruim, né? O cigarro teve essa função recreadora pra mim. Houve um tempo onde abusei dele, mas logo depois eu decidi que seria um instrumento de diversão, não algo cotidiano. Parei. De vez em quando eu fumo, mas só pra dividir um momento, rememorar um tempo específico da minha vida ou dividir uma confidência com alguém especial.

Fonte: http://farm9.staticflickr.com/8126/8644795796_560faab46b.jpg

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Conheci a Renata numa das lojas onde trabalhei. Ambas fumávamos e acabamos ficando amigas muito rápido, porque tínhamos vários pontos em comum e gostávamos do jeito uma da outra. Logo depois a minha fase de comércio acabou e eu fui me enveredar por outros ares, mas nossa amizade já estava sólida o suficiente. Tenho várias memórias muito bacanas de nossa amizade naquela época, a mais marcante, porque envolve comida, foi esta que vou contar. 

Uma vez, Renata me ligou convidando para passar a tarde na casa dela. Quando cheguei lá, ela abriu a porta de casa toda feliz, dizendo: "Paulette, comprei uma caixa de cervejas pra gente entornar todas assistindo Seal!" Eu adorava Seal. Eu detestava cerveja... Já estava toda sem-graça quando ela foi pra cozinha e voltou serelepe com um vidro na mão: "Inda fiz uma conserva de berinjela show pra gente comer com pão sírio, enquanto a gente bebe!". Eu odiava berinjela... Lá estava eu, numa situação desconfortável, pra falar o mínimo. Minha amiga achando que estava arrasando e eu preocupada em não tirar a alegria dela. Pensei que tinha de experimentar ao menos, pra não decepcionar. Se não gostasse, deixava pra lá e tudo certo. Ela ainda facilitou um pouco as coisas servindo um macarrão delicioso antes, cuja receita virou hit na minha casa em tempos de república (e na casa da minha mãe também). Daí, comi todo o macarrão, planejando malignamente só provar a berinjela por educação, dando a desculpa de que estava já satisfeita. Ledo engano!

Provei a dita da conserva e quase pirei de tão boa que era. Na verdade comi o pote inteiro, quase que instantaneamente. Não dei a mínima pro Seal. Depois, além de pedir desculpas pela falta de educação em acabar com o pote todo, acabei confessando meu trauma com berinjela. Ela achou o máximo ter me convertido e eu nunca mais esqueci desta berinjela da Rê. Minha mãe morria de ciúmes quando eu me recusava a comer qualquer outro prato feito com o vegetal, dizendo que "só comia berinjela se a Renata fizesse". Perturbei tanto a minha amiga pra ela me dar a receita que consegui, e agora eu posso fazer pra espalhar no corpo todo se eu quiser! Já fiz em duas festas diferentes e o povo levou o que sobrou pra casa. Dá até pra fazer rifa porque todo mundo sempre quer. 

Nossa amizade sobreviveu ao tempo e à distância e lá se vão quase 20 anos. Eu voltei pra Brasília, perdemos contato. Ela mudou-se pra Brasília sem eu saber e um dia nos reencontramos 5 anos depois, ao acaso, numa empresa onde eu trabalhava. Tudo por causa de uma chuva que me fez desviar de meu caminho habitual. Ela mudou-se para Orlando algum tempo depois; eu, para Miami uns 4 anos depois dela. E aí a gente viu que esse lance de "destino-que-segura-algumas-pessoas-na-vida-da-gente-no-matter-what" é algo muito interessante. Pra mim é uma dádiva, dado que muitas das minhas amizades morreram por conta da distância, embora eu tenha feito esforços incríveis para que isso não acontecesse. Daí, a gente percebe que fica quem quer e faz questão, quem gosta mesmo de você. Que te procura quando te perde e quando finalmente te acha, é como se dissesse: "não vá mais embora porque você é importante pacas.". Tenho sorte! Agora, morando Sri Lanka e estando distante quase um dia inteiro de viagem, tenho a certeza de que nunca mais perderemos este vínculo, este grande amor chamado amizade e que é um dos grandes presentes da vida. Eu vou morrer de saudades, mas essa garota não me escapa nunca mais! "My precious..."

A receita que publico aqui leva quase os mesmos ingredientes que a dela e o modo de fazer eu modifiquei um pouco. Foi uma maneira de dar meu toque pessoal e também de preservar a obra-prima dela. Porque parte da minha memória afetiva é comer a berinjela ao lado da Renata, vendo ela olhar com satisfação pra mim e perguntando se gostei. A conserva sempre vai ter mais sabor assim. E enquanto a gente não se encontra de novo eu vou fazendo esta versão pra ficar mais perto dela.

Garanto que vai te fazer sorrir também. Mãos à obra! 

Esta é a aparência do antepasto quando ingredientes são misturados todos juntos num bowl antes de irem para o vidro. 

Esta é a aparência do antepasto quando ingredientes são misturados todos juntos num bowl antes de irem para o vidro. 

Antipasto de Berinjela (inspirada na berinjela Rêal, da fofa da minha amiga querida)

600g de berinjelas com casca (se preferir descascá-las, coloque aí mais uns 150g)

1 cebola média 

250ml de vinagre de maçã

250ml de azeite de oliva extra-virgem

sal a gosto 

orégano seco a gosto

alho cru picado em lâminas finas (sem o broto do meio) a gosto 

Castanhas do Pará picadas a gosto

Passas brancas sem sementes a gosto (pode ser a escura)

Pimenta do reino moída na hora.

Modo de preparo: 

Lave bem as berinjelas e retire a coroa folhosa delas. 

Lave bem as berinjelas e retire a coroa folhosa delas. 

Pique-as em fatias e depois as fatias em quadrantes. Disponha-as em camadas numa assadeira, tomando o cuidado de polvilhar sal por cima de cada camada. 

Pique-as em fatias e depois as fatias em quadrantes. Disponha-as em camadas numa assadeira, tomando o cuidado de polvilhar sal por cima de cada camada. 

Tampe a assadeira, vedando bem, com papel alumínio. Leve ao forno pré-aquecido a 180 graus, por 30 minutos. Vá checando de 30 em 30 minutos, até que as fatias estejam totalmente cozidas e meio murchas. 

Tampe a assadeira, vedando bem, com papel alumínio. Leve ao forno pré-aquecido a 180 graus, por 30 minutos. Vá checando de 30 em 30 minutos, até que as fatias estejam totalmente cozidas e meio murchas. 

Enquanto você assa as berinjelas, asse a cebola também. Descasque-a e enrole em papel alumínio. 

Enquanto você assa as berinjelas, asse a cebola também. Descasque-a e enrole em papel alumínio. 

Assim. coloque numa assadeira separada.

Assim. coloque numa assadeira separada.

Quando as berinjelas estiverem cozidas, retire o papel alumínio imediatamente para deixar o vapor sair (cuidado para não se queimar!).. Quanto menos líquido as berinjelas retiverem neste momento, melhor! Pra ter certeza, espete a ponta de uma f…

Quando as berinjelas estiverem cozidas, retire o papel alumínio imediatamente para deixar o vapor sair (cuidado para não se queimar!).. Quanto menos líquido as berinjelas retiverem neste momento, melhor! Pra ter certeza, espete a ponta de uma faca de corte nelas. Se entrar e sair fácil, sem a berinjela "segurar" na faca, está pronto!

Quando a cebola estiver macia, espete uma faca até o centro. Se a faca sair facilmente, está pronta! Retire o papel e deixe esfriar pra picar. 

Quando a cebola estiver macia, espete uma faca até o centro. Se a faca sair facilmente, está pronta! Retire o papel e deixe esfriar pra picar. 

Quando a berinjela esfriar, esprema-a para retirar alguma sobra de líquido delas e coloque-as num bowl. 

Quando a berinjela esfriar, esprema-a para retirar alguma sobra de líquido delas e coloque-as num bowl

Agora é o momento de acrescentar os demais ingredientes. Misture todos os ingredientes picados primeiro e deixe os líquidos pra serem adicionados por último. Eu fiz ao contrário aqui e cheguei à conclusão de que é melhor deixar o óleo e o vinagre pr…

Agora é o momento de acrescentar os demais ingredientes. Misture todos os ingredientes picados primeiro e deixe os líquidos pra serem adicionados por último. Eu fiz ao contrário aqui e cheguei à conclusão de que é melhor deixar o óleo e o vinagre pro final. Castanhas, cebola, alho, ervas, pimenta, passas... Junte tudo no bowl e misture. Prove o sabor e corrija. Provavelmente não será necessário usar mais sal. Mesmo assim, prove para ter certeza. Você pode acrescentar o azeite e o vinagre na tigela e misturar, antes de colocar a mistura em vidros esterilizados (fervidos em água quente, a tampa também e secos naturalmente), ou você pode colocar camadas da mistura no vidro e ir adicionando os líquidos aos poucos, até completar o vidro. 

Quando você acrescentar os líquidos ainda na tigela, a berinjela tende a se desfazer com o ato de misturar. Se você quiser seu antipasto mais pedaçudo, fazer as camadas no vidro é mais indicado. Vá enchendo o vidro com as camadas (4 colher…

Quando você acrescentar os líquidos ainda na tigela, a berinjela tende a se desfazer com o ato de misturar. Se você quiser seu antipasto mais pedaçudo, fazer as camadas no vidro é mais indicado. Vá enchendo o vidro com as camadas (4 colheres de ingredientes em pedaços, 2 colheres de azeite, 2 de vinagre. Assim sucessivamente), até 2 dedos abaixo da abertura e complete com o azeite de oliva até a boca, pra vedar. Feche bem e guarde na geladeira. Fica melhor se feita uma semana antes de servir. Sirva com pão sírio ou Focaccia. Se bem que até com uma cream cracker vai muito bem! 

Aqui, a aparência do antepasto quando as camadas são feitas dentro do vidro, sem serem misturadas com os líquidos no bowl. O sabor será o mesmo. A escolha é sua! 

Aqui, a aparência do antepasto quando as camadas são feitas dentro do vidro, sem serem misturadas com os líquidos no bowl. O sabor será o mesmo. A escolha é sua! 

No fim, pra quem odiava berinjela, este é um dos ingredientes que mais aparecem neste blog. Obrigada, Rê! 

[Receitas de Família] "Casquinha" de Caranguejo com Tapioca.

Este é um dos pratos mais emblemáticos que se pode comer em casa de minha mãe. A receita não é dela, mas é executada com tanta maestria que é como os compositores dizem de Maria Bethânia com suas músicas: ela se apropria do que interpreta. Não foi à toa que Nara Leão, espertíssima, não quis mais reassumir seu lugar no palco do mítico show do Teatro Opinião.  

Eu me aventurei a fazer a receita pra convidados estrangeiros, como que para apresentar um pouco da comida brasileira para eles. Um japonês, uma peruana e uma venezuelana. Aproveitei que eles não tinham referência do prato pra fazer a minha versão, consciente de que jamais serei a Bethânia desta receita. Mas mesmo assim, fiz bonito e encantei! 

Estreando a cerâmica Honjo lindíssima que minha amiga Letícia me deu. 

Estreando a cerâmica Honjo lindíssima que minha amiga Letícia me deu. 

Como eu não tenho as carapaças de siri secas para apresentá-la como se deve, resolvi incrementar na brasilidade e servir o recheio com tapioquinhas, em tamanho aperitivo. A combinação funcionou tão bem que atingiu o objetivo de abrir um almoço de comida baiana, com sobremesa inspirada em Minas Gerais. Além de substituir a carapaça do siri, também substituí a carne pela de Caranguejo. Ficou gostoso demais e eu lamentei não ter sobrado nadinha pra gente beliscar sozinho depois de tudo acabado. Dica especial: guarde um pouquinho separado pra você comer em paz depois. Abra uma garrafa de um bom Sauvignon Blanc e ponha Bethânia na radiola. Ser feliz é só uma questão de saber cozinhar! Hahahaha.

Casquinha de Caranguejo com Tapioca pra beliscar.

Ingredientes

Para o recheio:

250g de carne de caranguejo cozida, limpa e desfiada grosseiramente

cebolinha verde a gosto

coentro fresco picadinho a gosto

1 limão

pimenta do reino a gosto

sal a gosto

1 colher de sopa de manteiga sem sal

1 colher de sopa de óleo de girassol ou outro de sabor neutro

1 cebola média picada em brunoise

1 colher de sopa rasa de farinha de trigo

1 tomate, sem sementes, picado em brunoise

1 fatia de pão amanhecido

100ml de caldo de vegetais

2 gemas 

100ml de creme de leite fresco

1 colher de sopa de queijo parmesão ralado

salsinha picada a gosto + para a finalização

1 colher de sopa rasa de azeite de dendê

80ml de leite de côco

pimenta vermelha fresca picadinha

Leve ao fogo uma panela com a manteiga e 1 colher de óleo. Deixe aquecer e refogue a cebola até que fique transparente. Acrescente a farinha de trigo e toste levemente.

Leve ao fogo uma panela com a manteiga e 1 colher de óleo. Deixe aquecer e refogue a cebola até que fique transparente. Acrescente a farinha de trigo e toste levemente.

Em seguir a adicione o tomate e o pão (previamente amolecido no caldo de vegetais. Passe-o pela peneira). Deixe em fogo brando, mexendo para não grudar, at;e formar um bolo. 

Em seguir a adicione o tomate e o pão (previamente amolecido no caldo de vegetais. Passe-o pela peneira). Deixe em fogo brando, mexendo para não grudar, at;e formar um bolo. 

Retire do fogo e junte as gemas, mexendo sempre. Torne a levar ao fogo brando por mais 5 minutos. Adicione o creme de leite, o queijo ralado e a casinha picadinha. Adicione a carne de caranguejo e mexa por aproximadamente 10 minutos, ou até que a um…

Retire do fogo e junte as gemas, mexendo sempre. Torne a levar ao fogo brando por mais 5 minutos. Adicione o creme de leite, o queijo ralado e a casinha picadinha. Adicione a carne de caranguejo e mexa por aproximadamente 10 minutos, ou até que a umidade extra que a carne trouxe para o creme desapareça. Junte a pimenta vermelha picadinha, o dendê e o leite de côco. Adicione o suco de limão, o coentro e cebolinha frescos picadinhos e ajuste o tempero com sal e pimenta. Desligue o fogo. Sirva numa panelinha com tampa e finalize com ervas frescas picadinhas por cima. 

Para as tapiocas:

500g de polvilho doce

300ml de água

sal a gosto. 

Modo de preparo: Fazer tapioca exige "ciência". Isto quer dizer que a quantidade de água a ser utilizada na hidratação do polvilho não pode ser determinada com precisão antes da realização da receita. Portanto, os 300ml aqui são apenas uma estimativa: poderão ser utilizados em sua totalidade ou não. Também pode ser necessário um pouco mais. No blog Come-se, da Neide Rigo, ela ensina a hidratar da melhor maneira. A técnica toma metade de um dia, mas é certeira. A que ensino aqui é mais emergencial, pra ser feita na hora. 

O que se deve ter em mente quando se faz tapioca é que a textura e aparência desejados são semelhantes às da ricota (veja foto acima). A melhor forma de atingí-lo com sucesso é ir adicionando a água aos poucos, incorporando-a com as mãos. …

O que se deve ter em mente quando se faz tapioca é que a textura e aparência desejados são semelhantes às da ricota (veja foto acima). A melhor forma de atingí-lo com sucesso é ir adicionando a água aos poucos, incorporando-a com as mãos. Misture bem antes de adicionar mais água, para não correr o risco de obter aquela mistura que parece líquida, mas que fica dura com o toque, conhecida cientificamente como "líquido não-newtoniano". Por isso também é importante reservar um pouco do polvilho seco, antes de começar a hidrata-lo. Se você errar a mão na água e ficar com o "líquido-duro", é só usar o polvilho seco pra ajustar o teor de água da mistura. 

Uma vez atingido o ponto certo, passe-a por uma peneira fina. Aqueça uma frigideira de uns 20cm de diâmetro, distribuindo porções dessa farofa sobre o fundo quente. Assim que puder tocar a superfície da tapioca e sentir que está firme, mova a frigid…

Uma vez atingido o ponto certo, passe-a por uma peneira fina. Aqueça uma frigideira de uns 20cm de diâmetro, distribuindo porções dessa farofa sobre o fundo quente. Assim que puder tocar a superfície da tapioca e sentir que está firme, mova a frigideira para que a tapioca se solte e vire-a para firmar o outro lado. Coloque-as umas sobre as outras numa tábua, até terminar a mistura de polvilho peneirada. Depois é só usar um cortador redondo de uns 8cm de diâmetro para fazer as tapioquinhas. O meu rendeu 4 tapioquinhas pra cada tapioca grande. 

sirva as tapioquinhas com o creme de caranguejo para que seus convidados as recheiem à medida em que comerem. Mas não esqueça de salvar umas pra você comer depois. Não vai sobrar, pode ter certeza disso! 

sirva as tapioquinhas com o creme de caranguejo para que seus convidados as recheiem à medida em que comerem. Mas não esqueça de salvar umas pra você comer depois. Não vai sobrar, pode ter certeza disso! 

Lutenitsa: pastinha búlgara deliciosa de vegetais.

Sou fã de manteiga, requeijão cremoso, cream cheese e quase tudo o que pode ser espalhado sobre uma fatia de pão. Tanto, que sou consumidora regular de pesto, receita que já apareceu aqui no blog e que sempre tenho na geladeira. Porém, Bruno tem uma certa preferência por pesto como molho e mesmo assim me disse que já estava meio enjoado. Como isso é possível, eu não sei. Mas fiquei com isso na cabeça e comecei a procurar uma alternativa ao meu spread favorito pra poder agradá-lo um tiquinho. E daí me veio a idéia de fazer Lutenitsa

Esta é uma pasta búlgara muito gostosa, que eu já tive oportunidade de comer duas vezes. A primeira, num restaurante especializado em comida dos países dos Bálcãs em Nova Iorque e outra, num restaurante de comida israelense em Nova Orleans. Em ambos momentos eu gostei demais da textura, da cor e do sabor da Lutenitsa e achei que seria uma boa tentar fazer em casa pra comer. E acabei esbarrando nesta receita aqui. A partir dela eu consegui fazer uma pastinha bastante gostosa e que durou a semana inteira. Ela é meio adocicada e combina perfeitamente com pão e ovos. Bruno a devorou todos os dias no café da manhã e eu acredito, embora não tenha testado, que ela funcionaria muito bem numa massa longa, como molho. Originalmente todos os ingredientes meio que se fundem uma pasta bem vermelha. Eu quis fazê-la um pouco pedaçuda, por isso não processei os vegetais. Também quis que ela tivesse um sabor mais defumado, então decidi assar, além dos pimentões, a berinjela e as cenouras. Preferi uma consistência mais seca, para poder passar no pão e concentrar mais os sabores. E resolvi suprimir o açúcar da receita base, optando por desenvolver o açúcar da cebola e dar o toque adocicado sem adicionar nada além do que já havia nos vegetais. Fiquei bastante satisfeita com o resultado, que agora divido com vocês. 

Lutenitsa (rendimento: um pote e meio de g)

No pão. Um sabor adocicado, picante e defumado, com textura de vegetais em pedaços. 

No pão. Um sabor adocicado, picante e defumado, com textura de vegetais em pedaços. 

1 berinjela média/grande

3 pimentões vermelhos grandes

2 cenouras médias descascadas

3 tomates sem pele, com sementes, picados grosseiramente

1 cebola grande picada em cubos pequenos

1 colher de sobremesa rasa de extrato de tomate

quantidade necessária de azeite 

páprica doce a gosto

tomilho seco a gosto

sal e pimenta do reino moída na hora

Modo de fazer: 

Lave bem a berinjela e enxugue. Corte-a ao meio e faça cortes na carne, formando quadradinhos. Regue-a com azeite e tempere com um pouquinho de sal e pimenta do reino moídas na hora. Não coloque muito tempero agora. Lembre-se que você vai reduzir a …

Lave bem a berinjela e enxugue. Corte-a ao meio e faça cortes na carne, formando quadradinhos. Regue-a com azeite e tempere com um pouquinho de sal e pimenta do reino moídas na hora. Não coloque muito tempero agora. Lembre-se que você vai reduzir a mistura ao mínimo de água possível e que o ideal é acertar o sabor no final do preparo. Embrulhe-as em papel alumínio.

Embrulhe cada metade da berinjela no papel alumínio e coloque numa assadeira. Aproveitei e coloquei as cenouras junto porque tinha bastante espaço. Leve-as ao forno até que ao espetar uma faca na parte mais grossa da cenoura, ela solte imediatamente…

Embrulhe cada metade da berinjela no papel alumínio e coloque numa assadeira. Aproveitei e coloquei as cenouras junto porque tinha bastante espaço. Leve-as ao forno até que ao espetar uma faca na parte mais grossa da cenoura, ela solte imediatamente. O ponto da berinjela é quando ela estiver transparente e muito macia. Retire do forno. Reserve as cenouras para esfriarem. Abra os pacotes de berinjela e raspe a polpa, com a ajuda de uma colher de sobremesa, deixando só a casca pra trás. Reserve e deixe esfriar. 

Lave bem os pimentões e coloque-os numa assadeira. Leve-os ao forno, sem cobrir. A pele deles vai começar a criar bolhas, vai trincar e começar a ficar com aspecto de queimado, Vire-os de vez em quando para que eles dourem ao máximo por todos os lad…

Lave bem os pimentões e coloque-os numa assadeira. Leve-os ao forno, sem cobrir. A pele deles vai começar a criar bolhas, vai trincar e começar a ficar com aspecto de queimado, Vire-os de vez em quando para que eles dourem ao máximo por todos os lados. Assim que estiverem assados com queimadinhos por todos os lados, retire-os do forno. A melhor maneira de retirar a pele dos pimentões é dar um sabor defumado é coloca-los direto sobre a chama do fogão. Põe o pimentão na boca do fogo e liga a chama. Vire de vez em quando (cuidado para não se queimar! Use uma pinça própria!) e retire quando a pele estiver trincada e bem queijadinha. Adoraria fazer este processo aqui, mas meu fogão é elétrico. Por isso usei o forno. 

Passe os pimentões imediatamente para um refratário e vede-o com plástico filme. O calor e o vapor vão ajudar a soltar a pele dos pimentões e facilitar o processo de descasca-los. Deixe abafado até esfriar. Retire a pele e as sementes, além dos veio…

Passe os pimentões imediatamente para um refratário e vede-o com plástico filme. O calor e o vapor vão ajudar a soltar a pele dos pimentões e facilitar o processo de descasca-los. Deixe abafado até esfriar. Retire a pele e as sementes, além dos veios interios brancos. 

Coloque uma panela com água suficiente para cobrir os tomates para ferver. Lave os tomates e faça cortes em cruz na parte contrária à posição da coroa. 

Coloque uma panela com água suficiente para cobrir os tomates para ferver. Lave os tomates e faça cortes em cruz na parte contrária à posição da coroa. 

Assim que a água ferver, coloque os tomates na água e deixe-os imersos por 1 minuto ou até que você perceba que a casca começou a se romper e a sair fácil.

Assim que a água ferver, coloque os tomates na água e deixe-os imersos por 1 minuto ou até que você perceba que a casca começou a se romper e a sair fácil.

Numa tigela já preparada com um banho maria invertido (água com gelo) mergulhe os tomates recém-retirados da água quente para interromper o processo de cocção. Aguarde até que eles estejam frios. 

Numa tigela já preparada com um banho maria invertido (água com gelo) mergulhe os tomates recém-retirados da água quente para interromper o processo de cocção. Aguarde até que eles estejam frios. 

Retire a pele dos tomates, com cuidado para não amassa-los. 

Retire a pele dos tomates, com cuidado para não amassa-los. 

Tomates pelados. ;)

Tomates pelados. ;)

Corte os tomates em quatro e retire aquela parte branca que fica junto onde antes ficava o cabo. Corte-os grosseiramente, com as sementes, e reserve. 

Corte os tomates em quatro e retire aquela parte branca que fica junto onde antes ficava o cabo. Corte-os grosseiramente, com as sementes, e reserve. 

Numa frigideira quente, coloque um fio de azeite e junte a cebola picadinha. Mexa, em fogo médio, até dourar. Quanto mais você caramelizar a cebola, mais açúcar você desenvolverá nela. veja o processo de caraterização aqui. 

Numa frigideira quente, coloque um fio de azeite e junte a cebola picadinha. Mexa, em fogo médio, até dourar. Quanto mais você caramelizar a cebola, mais açúcar você desenvolverá nela. veja o processo de caraterização aqui. 

Assim que a cebola estiver no ponto, adicione o extrato de tomates e mexa por uns cinco minutos. O contato com o calor reduzirá a acidez do extrato. 

Assim que a cebola estiver no ponto, adicione o extrato de tomates e mexa por uns cinco minutos. O contato com o calor reduzirá a acidez do extrato. 

Junte os tomates e cozinhe até que amoleçam e possam ser amassados com a colher. 

Junte os tomates e cozinhe até que amoleçam e possam ser amassados com a colher. 

Cozinhe até que os tomates e a cebola se incorporem num molho espesso. Adicione um pouco do tomilho seco.

Cozinhe até que os tomates e a cebola se incorporem num molho espesso. Adicione um pouco do tomilho seco.

Adicione os vegetais previamente preparados: os pimentões picados grosseiramente, a berinjela e a cebola amassadas. Continue mexendo de vez em quando. 

Adicione os vegetais previamente preparados: os pimentões picados grosseiramente, a berinjela e a cebola amassadas. Continue mexendo de vez em quando. 

Durante o cozimento prolongado, os vegetais ficarão mais macios e se incorporarão ao molho de tomate com cebola. Aqui você já pode começar a ajustar o tempero: sal, pimenta, páprica, corrija o tomilho, tomando cuidado pra não por demais... Vá adicio…

Durante o cozimento prolongado, os vegetais ficarão mais macios e se incorporarão ao molho de tomate com cebola. Aqui você já pode começar a ajustar o tempero: sal, pimenta, páprica, corrija o tomilho, tomando cuidado pra não por demais... Vá adicionando aos poucos e lembre-se que ainda precisará reduzir a água da mistura um pouco mais. 

Quando a pasta estiver bem mais seca, ajuste o tempero ao seu gosto. Desligue o fogo e deixe esfriar. Adicione azeite à mistura antes de envasar. 

Quando a pasta estiver bem mais seca, ajuste o tempero ao seu gosto. Desligue o fogo e deixe esfriar. Adicione azeite à mistura antes de envasar. 

Coloque num pote esterilizado com tampa. Dê batidinhas do pote numa superfície dura (coberta com um pano pra amortecer) a cada colherada de pasta que colocar, para que ela assente e elimine ao máximo as bolhas de ar. Ao final, cubra a superfíci…

Coloque num pote esterilizado com tampa. Dê batidinhas do pote numa superfície dura (coberta com um pano pra amortecer) a cada colherada de pasta que colocar, para que ela assente e elimine ao máximo as bolhas de ar. Ao final, cubra a superfície da massa com azeite extra virgem, tampe e guarde em geladeira. Melhor consumir a partir do dia seguinte e por no máximo, 1 semana. 

Arepas: a tortilha que substitui o pão na Venezuela e na Colômbia.

Uma coisa divertida durante a Copa do mundo foi me aventurar nos pratos típicos dos adversários da Seleção Brasileira. Eu não vi muitos dos jogos começarem, porque sempre estava terminando de montar um prato para ser servido. Assistimos aos jogos em casa de amigos e sempre havia muita gente, o que me dava base pra testar as receitas e saber o que o povo achava. Era um grande desafio chamar a atenção dos convivas para minhas interpretações gastronômicas da comida dos rivais. Achavam, no início, que poderia não dar sorte e sempre havia aquelas clássicas guloseimas de jogo para atrapalhar o apetite. Deu certo pra nós, até o jogo contra a Colômbia.  Aí, o feitiço virou contra o feiticeiro... 

Só não fiz pratos pros jogos contra Camarões e Chile porque não tive tempo. Das que foram realizadas, 3 foram para o pódio: Arepas Colombianas, Joelho de Porco e Cevapcici com Ajvar (almôndegas com molho de pimentões e berinjelas, da Croácia). No caso do jogo contra a Colômbia, fiquei com um certo receio, porque teríamos uma venezuelana entre nós e arepas são prato típico nos dois países. A Valerie me disse que as arepas na Colômbia costumam ser doces. Mas as pesquisas que fiz sobre elas no Google não me mostraram isso (como ainda não conheço o país, vou ter de fazer uma visitinha pra conhecer in loco). O fato é que foi bem interessante fazer estes pratos. Pude conhecer um pouco mais da riqueza gastronômica que existe por aí, o que me aguçou ainda mais a vontade de ganhar o mundo. E foi legal descobrir que eu já tinha comido Ajvar antes (pasta de pimentões, pimenta e berinjelas), na minha última ida a Nova Iorque. Já o joelho de porco dispensa apresentações pra nós.

Arepas são tortilhas altas de milho, bastante antigas, de origem indígena, da região onde hoje se encontram a Colômbia e a Venezuela. Originalmente, elas eram feitas do grão do milho branco - semelhante ao que usamos pra fazer a canjica no Brasil, cozido e moído. É possível encontrá-las feitas da maneira tradicional em alguns restaurantes colombianos e venezuelanos, além de congeladas no supermercado, aqui em Miami. Porém, eu queria fazê-las desde o início, pra ver como era, por isso optei por usar a farinha. Acredita-se que, se não houvesse a evolução do processo para o uso da farinha fina e pré-cozida de milho (vendida hoje em supermercados), as arepas deixariam de ser feitas pelas populações de seus países, por conta do tempo exigido para sua execução. 

Elas são consumidas de inúmeras formas. Recheadas, puras com manteiga, com carne, ovo, queijo e várias outras opções. Me lembrou a tapioca, que é um substituto do pão em nossa cultura e que também tem origem indígena. A receita que foi feita você pode encontrar aqui. A Valerie disse que nunca viu arepas tão chiques, e confirmou que a massa estava com a textura certa. Ela elogiou bastante a receita e todos gostaram. Vale a pena!

Arepa con Carne a la Criola (rendimento: 10 discos de cm)

Prontas pra servir, fiz as arepas com tamanho reduzido pra petiscar. 

Prontas pra servir, fiz as arepas com tamanho reduzido pra petiscar. 

1 xícara de chá de masarepa (o "fubá" de milho branco)

1 xícara de chá de água quente

2 colheres de sobremesa de manteiga

uma pitada de sal fino

650g de filé ou fraldinha picados em pedaços médios

1 colher de sobremesa de óleo de girassol

1 xícara de chá de tomate em cubos com as sementes

cebolinha a gosto

2 dentes de alho picados

1 colher de sobremesa de cominho moído

sal e pimenta do reino a gosto

coentro fresco picado à gosto

1 xícara de guacamole

1 xícara de milho verde cozido

cebola roxa cortada em meia-lua.

Modo de fazer:

Massa: 

Numa tigela funda, de vidro ou de metal, combine a farinha pré-cozida de milho e a manteiga gelada picada com água quente, misturando bem. Deixe repousar por 5 minutos.

Numa tigela funda, de vidro ou de metal, combine a farinha pré-cozida de milho e a manteiga gelada picada com água quente, misturando bem. Deixe repousar por 5 minutos.

Amassar com as mãos, fazendo movimentos de abre e fecha. Será preciso umidecer as mãos algumas vezes pra hidratar um pouco mais a massa e deixá-la lisa, sem quebrar. Forme uma bola com a massa e, entre folhas de plástico-filme, abra-a até que f…

Amassar com as mãos, fazendo movimentos de abre e fecha. Será preciso umidecer as mãos algumas vezes pra hidratar um pouco mais a massa e deixá-la lisa, sem quebrar. Forme uma bola com a massa e, entre folhas de plástico-filme, abra-a até que fique com 0.5 cm de altura.

Usando um cortador de biscoitos de aproximadamente 10 cm de diâmetro, corte as arepas. 

Usando um cortador de biscoitos de aproximadamente 10 cm de diâmetro, corte as arepas. 

Derreta um pouco de manteiga e pincele sobre a superfície dos discos. Numa frigideira quente, doure os discos com a face untada em contato com a panela. Deixe por 3 minutos, unte o outro lado e vire-as. Aguarde mais 3 minutos. As faces ficarão tosta…

Derreta um pouco de manteiga e pincele sobre a superfície dos discos. Numa frigideira quente, doure os discos com a face untada em contato com a panela. Deixe por 3 minutos, unte o outro lado e vire-as. Aguarde mais 3 minutos. As faces ficarão tostadinhas.

Para a carne: Aqueça o óleo numa frigideira e salteie a carne até que esteja caramelizada. Adicione o tomate, o cominho e o alho e cozinhe até que o tomate se desmanche e forme um molho viscoso, revestindo as peças de carne.

Montagem: Coloque uma colher de guacamole* sobre o disco, uma porção generosa de carne por cima, grãos de milho verde, fatias finas de cebola roxa e salpique coentro fresco picado. Sirva imediatamente.

*receita em breve.