Ao contrário do que muita gente pensa, a comida norte-americana não se resume ao Fast-Food. É claro que o que chega até nós, por meio dos restaurantes de cadeia, é o símbolo da comida ruim e barata, envolvida em marketing de primeira linha e gordura de quinta, cujo objetivo é vender um estilo de vida e não comida de verdade. Mas isso é assunto pra outro post.
A Southern-Food é uma das comidas mais representativa do país. Fazendo um comparativo meio forçado, é algo como as comidas mineira e goiana: muita gordura, preparos simples e muitos saborosos. Em vários aspectos é possível fazer a comparação, porque a comida do sul tem ingredientes muito conhecidos por nós: quiabo, milho, feijão, frango... A maneira de preparo dos ingredientes é bem diferente da nossa, em alguns pratos salgados usa-se açúcar (como no Baked Beans, uma herança inglesa que pode fazer um brasileiro passar vergonha ao encher o prato com um feijão lindo, brilhante, vermelhinho e... doce!). Mas é a comida mais relacionada com a memória afetiva do estadunidense, aquela que aparece nas poucas reuniões familiares que ocorrem durante o ano. Desde que chegamos aqui e eu pude experimentar melhor a comida, eu morri de amores.
Na verdade, meu primeiro contato com esta comida foi ainda na faculdade de gastronomia, na cadeira de Cozinhas Internacionais. Foi o princípio de um interesse que me persegue até hoje, pois não me canso de procurar receitas, assistir seriados e programas sobre o assunto, testar os pratos em casa e fazer viagens para provar tudo o que posso. A fila tá grande e precisa diminuir. A intenção é despejar tudo aqui.
Esta receita eu fiz pela primeira vez para o jantar de Thanksgiving do ano passado e ela fez bastante sucesso. Nós ainda não tivemos a sorte de passar a festividade numa casa norte-americana de verdade e o mais próximo que chegamos disso foi quando almoçamos no Mrs. Wilkes Dining Room. Mas eu decidi fazer a ceia pra ver como era o trabalho todo e testar algumas receitas que eu vinha colecionando fazia tempo. Eu até tirei fotos da mesa e dos pratos, mas achei-as tão mal tiradas para o blog que resolvi deixar pra apresentar os pratos individualmente, em outra ocasião.
O Corn Pudding é um prato que localiza-se entre o suflê brasileiro e o molho branco com vegetais. Normalmente, a palavra pudding refere-se a sobremesas, como o mais tradicional que é como um mingau de maisena, ou o Bread Pudding que é bem gostoso e usa sobras de pão. Mas há algumas receitas salgadas, como essa aqui. A base é de creme de leite e a receita leva ovos na finalização, deixando a consistência final parecida com a de um suflê brasileiro, só que mais úmido. Como um gratinado. E dos bons! Esta receita eu achei por acaso e ela me encheu a boca d'água desde a primeira vez. Como a maioria dos pratos de acompanhamento sulistas, é bastante fácil de fazer. Vai muito bem com aves assadas. Na segunda vez que fiz, comemos como prato principal junto com uma saladinha e ficou muito bom também.
Gratinado de Milho, presunto cru e champignons (rendimento: 6 a 8 porções)
3 colheres de sopa de manteiga, e um pouco mais para untar a forma.
1 xícara de chá de queijo parmesão ralado fino
2 xícaras de chá de cogumelos frescos, tipo champignons ou portobelo fatiados finos
sal e pimenta do reino moída na hora
4/5 espigas de milho ou 2 xícaras de milho debulhado e picado grosseiramente, para aumentar a superfície de liberação do amido (se for usar espigas, você pode ralar o milho ao invés de cortar. O objetivo é ter um milho picado grosseiramente).
1 xícara e meia de cebola cortada em cubinhos pequenos
2 colheres de sobremesa de farinha de trigo
2/3 de xícara de chá de creme de leite fresco
2/3 de xícara de chá de leite integral
85 gramas de presunto cru fatiado fino e picado em pedaços
3 ovos grandes batidos
Modo de preparo:
Pré-aqueça o forno a 180 graus. Unte um refratário grande ou ramekins pequenos com manteiga e coloque um pouco do queijo ralado por cima, espalhando-o para que grude na manteiga. Reserve.
Derreta uma colher de manteiga numa frigideira grande em fogo médio. Adicione os cogumelos fatiados, uma pitada de sal e deixe-os dourar sem mexer muito - quanto mais você mexê-los, mais água eles irão soltar. Quando estiverem bem dourados, retire-os do fogo e reserve.
Derreta a manteiga restante e refogue as cebolas entre 8 a 10 minutos, sem deixar dourar. Misture sempre. O ponto correto é quando ela ficar translúcida. Adicione a farinha de trigo e misture rapidamente, formando um roux. Adicione o milho cortado/ralado grosseiramente e misture constantemente, até que o milho fique amarelinho e que o líquido seque. Adicione o presunto picado, 3/4 de xícara de queijo ralado e os cogumelos salteados. Coloque o creme de leite e mexa constantemente, até que o líquido reduza bastante. Adicione o leite e misture por aproximadamente 3 minutos, até que os sabores se incorporem. Corrija o tempero com sal e pimenta.
Tempere os ovos batidos com sal e pimenta. Verta-os sobre a mistura e incorpore-os rapidamente com a colher, para que não cozinhem com o calor antes de dissolvidos. Transfira a receita para o refratário untado, coloque o restante do queijo ralado por cima e leve ao forno já aquecido. Asse até que o centro da travessa esteja firme e o queijo dourado.
Observação: A receita original pede para colocar o refratário dentro de uma forma alta e enchê-la até à metade com água quente, pra evitar que os ovos coagulem rápido demais, fazendo furinhos no resultado final. Eu preferi não fazê-lo e deixar rústico mesmo. Caso decida tentar, o tempo de forno aumentará consideravelmente. Se for a travessa grande, algo em torno de 40 minutos.
Sirva acompanhando frango assado, ou coma como um suflê, acompanhado de saladinha verde.